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Por
Ivan de Carvalho
Gloriosamente,
Léo Boy receberá hoje a chave da cidade e supõe-se que bem saiba o que fazer
com ela, pois que no carnaval passado já se exercitou nessa tarefa. Talvez, na
quarta-feira de cinzas, esteja apto a oferecer ao neo-prefeito ACM Neto alguns
conselhos a respeito de como bem usar a tal chave. Quanto aos R$ 15 mil do
prêmio, que faça o que lhe vier à cabeça, uma vez que a tenha sensata, do que
não há garantia, visto que ela deixou o corpo chegar aos 138 quilos.
É,
aliás, neste ponto que começam minhas divergências a respeito dos parâmetros para enquadrar os candidatos a Rei Momo e, finalmente, o eleito – mínimo de 106
e máximo de 230 quilos. Isso é um tiro no pé, um gordo e pesado obstáculo que
se levanta contra o êxito da embrionária campanha social contra a obesidade,
causa – provada pela medicina – de um grande número de malefícios à saúde,
desde o diabetes às doenças coronarianas e angiológicas em geral, passando por
um aumento do risco de câncer e indo até uma notória queda na qualidade de
vida.
As vantagens da obesidade, além do obeso adquirir
a chance de ser rei momo, vai para os médicos que se especializam em cirurgias
bariátricas, os hospitais onde estas cirurgias são feitas, os nutrólogos e
nutricionistas que receitam dietas para obesos emagrecerem, academias de
ginástica e produtos farmacêuticos que, para quem esteja disposto a enfrentar
seus efeitos colaterais, reduzem a fome e ajudam a emagrecer. Atualmente,
floresce em muitos países do mundo uma pujante economia da obesidade, cuja
extinção seria lamentada apenas pela maioria das pessoas que ganham dinheiro
com ela. Algumas não lamentariam, por amarem ao próximo como a si mesmas.
Só o que foi dito nas linhas precedentes já
recomenda que, se no futuro ainda houver carnavais (“O futuro a Deus pertence”,
dizia o ex-ministro da Justiça do presidente Geisel, Armando Falcão), o Rei
Momo seja um magro, pelos critérios adotados na biometria.
O Rei Momo Magro, além de dar uma inestimável
contribuição à campanha mundial (e brasileira) contra a obesidade, apresenta
outras vantagens. Ele, obviamente, cansa menos – gasta menos energia para fazer
os mesmos movimentos. Com isso, lhe sobre energia para pular mais e melhor que
um Rei Momo Gordo.
Mas não são apenas estas as vantagens. Um Rei
Momo Magro – na comparação com um Rei Momo Gordo – poderia facilmente tornar-se
garoto propaganda de uma campanha contra o desperdício de alimentos, já que
estes faltam em muitas mesas porque são consumidos demais em outras.
Finalmente, segundo as estatísticas que aqui e
ali a medicina anda acumulando, um Rei Momo Magro correria bem menos risco de,
em plena ação, ter um piripaque e introduzir tristeza no carnaval.
Quanto ao Leandro, o Léo Boy, uma vez que já está
eleito e entronizado, desejo-lhe sinceramente um feliz reinado. Mas, a partir
da quinta-feira, emagrece, cara. Não fica esperando o tri. Rei Momo Gordo, com
toda a notoriedade que o título lhe dá, é um grande mau exemplo. Emagrece,
moço, e se oferece para fazer campanha contra a obesidade. Aquele negócio –
antes, depois.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.