Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carnaval

Sexta, 8 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Ontem o Rei Momo recebeu as chaves da cidade e hoje começa oficialmente o feriadão de carnaval. Uma coisa parece bem definida – se o Judiciário autorizou a participação de jegues e cavalos em festas como a Lavagem do Bonfim e o Dois de Julho, seguramente que a participação de ambas as espécies está liberada na Mudança do Garcia, na segunda-feira. Com a vantagem de que, desta vez, não há o menor perigo de o prefeito João Henrique Carneiro cair do cavalo – atualmente ele prefere cavalgar jet sky em águas estrangeiras.
Para o novo prefeito, ACM Neto, o problema, de modo nenhum, seria cair do cavalo, mas subir nele. No entanto, uma vez posto lá em cima pelo povo, nada há nesta cidade que o derrube.
         
   Outra espécie, a dos burros e mulas, certamente se beneficiou da decisão judicial, ainda que esta não as cite especificamente. Mas é claro que não poderiam ser discriminadas apenas por serem, geneticamente, inaptas para a procriação. Excluí-las não teria o menor sentido e seria politicamente incorreto.

Além disso, a discriminação contra os burros iria gerar uma ampla insatisfação e poderia provocar dos interessados/prejudicados grandes manifestações de inconformismo, capazes de bloquear as avenidas que integram os circuitos de carnaval, que – para felicidade geral de certos programas de televisão – ficariam juncadas de cadáveres, já que burros na Bahia, como bem se sabe, nascem mortos.

 Examinados estes aspectos do carnaval de 2013, não custa fazer um breve exercício de futurologia e imaginar o carnaval do porvir – não dá para saber a partir de que ano, pois a Ponte João Ubaldo Ribeiro, mais conhecida com ponte Salvador – Itaparica, pode levar desde alguns anos até algumas décadas para ficar pronta e utilizável, isto se não se cumprir a profecia do líder do PSDB na Câmara dos deputados e ex-prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy, de que essa ponte jamais se mudará do papel para o mar.

Mas é claro que, quando estiver pronta, nenhum soteropolitano deixará de ter a idéia verdadeiramente genial de criar para por sobre ela um novo e inquestionavelmente espetacular circuito do carnaval. Os camarotes ficariam no mar, os de luxo em grandes iates e os populares – ainda que a preços escorchantes – nas embarcações do ferry boat, que não seriam afundadas, mas mantidas emersas apenas para essa utilização, já que a Ponte João Ubaldo Ribeiro absorveria as demais.

Naquela plataforma de extração de petróleo da Petrobrás que passa por baixo da ponte desde aquele tempo em que tanto a plataforma quanto a ponte ainda moravam naqueles filmetes da propaganda do governo da Bahia, seria instalado, naturalmente, o camarote das principais autoridades do Estado e do país. E alegreme-nos, pois consta que a presidente Dilma escolheu passar o carnaval na Bahia, no que devem imitá-la todos os seus dignos sucessores. Ora, é só aquela portentosa plataforma da Petrobrás dar uma passadinha em Inema e em seguida posicionar-se a estibordo da ponte, de onde facilmente pode enviar um bote para ir até o tabuleiro flutuante da Cira e pegar um acarajé presidencial.

Minha única preocupação com essa questão da ponte é a presença, no sistema solar interno, do astro que os sumérios chamavam Nibiru (cruzador, o que cruza), com massa seis vezes maior que a de Júpiter, e que produziria na Terra, da qual rapidamente se aproxima, terremotos e maremotos monumentais, assim como erupções vulcânicas e outras catástrofes, determinando o fim desta civilização, mas não da humanidade. Ora, maremotos com ondas de várias centenas de metros de altura – fico imaginando se a ponte aguentará o tranco e concluo que não.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.