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(Millôr Fernandes)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O quarteto de Wagner

Sábado, 16 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
            1. Seria praticamente obrigatória, não fossem os eventos celestes, a dedicação integral deste espaço, hoje, à mensagem anual lida pelo governador Jaques Wagner, ontem, na Assembléia Legislativa. Ele destacou quatro áreas como o foco de seu governo em 2013 – ano que será o sétimo dele no cargo.

            Essas áreas citadas por Wagner são desenvolvimento, emprego, justiça social e combate à violência. Pode-se até dizer que, se tomadas essas áreas em conjunto e levadas em conta as ações necessárias para atuar nelas e os efeitos que se esperaria dessas ações, quase tudo (ainda que não tudo) no governo está incluído. Dá para incluir, em justiça social, por exemplo, até mesmo as cisternas, poços e aguadas da política de atenuação dos efeitos das secas.

Algumas coisas, naturalmente, não podem ser incluídas naquele quarteto. Ficam de fora, entre elas, as “relações institucionais” e as políticas partidária e eleitoral, políticas de apoio ao setor cultural e, talvez, realizações imateriais como a Ponte João Ubaldo Ribeiro e o modo democrático de governar – uma marca inegável e, no Brasil, notável, no comportamento de Wagner, não somente nos seis anos que já cumpriu na chefia do governo baiano, como em fases anteriores, quando foi parlamentar, líder do PT na Câmara e integrante do primeiro escalão do governo Lula.

O governador lembrou as “dificuldades” de 2012, derivadas das “turbulências na economia mundial”, com o “aprofundamento da crise” na Europa, o “crescimento moderado” nos Estados Unidos e o “ritmo menos acelerado” da China. Isenções fiscais “necessárias” concedidas pelo governo federal para reagir a este quadro obrigaram o governo baiano a “fazer ajustes” por causa da queda de receita do Estado, explicou Jaques Wagner.

Quanto a isso, não parece ainda claro o que o governo Dilma Rousseff  vai fazer a respeito dos reflexos da crise financeira e econômica global em 2013, mas  razões para otimismo não são visíveis, pois esse quadro internacional não apresenta sinais objetivos de recuperação.

O governador, no entanto, parece otimista com a disponibilidade do dobro de recursos para investimentos em relação ao ano passado, graças, principalmente, a empréstimos sempre aprovados pelo Tesouro Nacional e com investimentos muito expressivos do setor privado, esperados para o setor de mineração.

2. Bem, vamos gastar as últimas linhas com os eventos celestes. Um meteoro atravessou os céus da Rússia e explodiu no ar, atingindo uma área de 100 mil metros quadrados, danificando 3 mil prédios e deixando cerca de 1.100 feridos, em Tchlyabinsk, na Rússia. Os feridos o foram por estilhaços de vidro e outros elementos de edifícios e casas.

Horas depois, um asteroide de 45 metros de diâmetro (é de tamanho bem maneiro, mas capaz de provocar uma grande destruição regional) passou a 27 mil quilômetros da Terra, a uma altitude, portanto, inferior à dos satélites estacionários, como os de comunicação e muitos de observação. Ufa, raspou, mas não bateu. As galinhas, jacarés e lagartixas, descendentes dos dinossauros, desta vez sobreviveram.

Apesar de tudo isso, ontem mesmo divulgou-se que astrônomos profissionais e amadores e a Nasa estão em grande alvoroço por causa do cometa Ison, “o cometa do século”. Ele só vai passar pelas vizinhanças, sem risco nenhum, em fins deste ano.

Distração. O mágico chama sua atenção para uma das mãos e faz as coisas com a outra. Porque sobre a massiva estrela anã marrom com vários planetas, (re)descoberta pela Nasa em 1983, anunciada e noticiada por jornais americanos (inclusive o Washington Post), e negada dois dias depois, o mundo científico não dá um pio. É tabu, só quebrado atualmente na Internet.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.

Ivan de Carvalho é jornalista baiano.