Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez e suas pérolas

Quarta, 20 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
 “Eles tinham as veias do pescoço inchadas, eu abria um sorriso. Eles me faziam ataques pessoais, eu levava a discussão para o plano de Cuba, que sempre será mais importante do que esta humilde serva. Eles queriam me linchar, eu conversar. Eles respondiam a ordens, eu sou uma alma livre”.

Lindo, de uma beleza quase evangélica. Encontrei essas pérolas de Yoani Sánchez em uma reportagem publicada pelo site Bahia Toda Hora, sobre a passagem da internacionalmente famosa blogueira cubana em Feira de Santana.

Ela disse aquelas coisas bonitas para ela e vexatórias para os demais protagonistas, que a hostilizavam, durante uma entrevista coletiva em Feira, quando falou sobre a horda que invadiu, na noite anterior, o recinto em que seria exibido o documentário do cineasta Dado Galvão “Conexão Cuba x Honduras”.

A horda, fazendo uma baderna no local, cobrou de Yoani Sanchéz um debate, que ela aceitou e acabou – como pretendia a horda – inviabilizando a exibição do comentário em que Yoani é uma das pessoas entrevistadas. Durante o debate, a pequena horda de manifestantes nada debateu, só agrediu, desta vez apenas verbalmente. Em Recife, na madrugada de domingo, no desembarque no aeroporto, chegou a haver uma “puxada de cabelo” da blogueira, segundo o noticiário.

Além daquelas palavras de Yoani Sanches, outra coisa bonita foi ver a presença e a atuação do senador Eduardo Suplicy, do PT, ética e dignidade encarnadas, no “debate” da noite de segunda-feira em Feira. Ele tentou assegurar que a horda aceitasse ouvir o que dizia a blogueira cubana, já que a convidara (desafiara) para um debate e, não sendo atendido, discutiu acaloradamente com os manifestantes liberticidas recrutadas na militância do PC do B, PT, CUT e certas ONGs, para uma ação de amplitude nacional contra Yoani (Denunciou a revista Veja sobre reunião realizada em 6 de janeiro na embaixada de Cuba, em Brasília).

É por esta sua disponibilidade para lutar pela liberdade e pela justiça e assumir atitudes que não se alinham com o autoritarismo entranhado em seu partido que o senador Suplicy está ameaçado de não obter legenda pelo PT para candidatar-se à reeleição para senador, embora o partido não tenha, em São Paulo, nenhum outro nome comparável em popularidade ao dele, a não ser que coloque Lula para candidato a senador, o que não consta seja intenção do PT nem do ex-presidente.

Antes dele, o então deputado baiano petista Luiz Bassuma, na época presidente da Frente Parlamentar Nacional em Defesa da Vida e Contra o Aborto, foi suspenso do partido por um ano (resolveu sair da legenda) só porque lutava contra a descriminalização do aborto e a matança dos inocentes.

Coisa feia foi ver o deputado Álvaro Gomes, do PC do B, pelo segundo dia consecutivo, e sua correligionária Kelly Magalhães, ocuparem ontem a tribuna da Assembléia para tentar, triste missão, desqualificar Yoani Sánchez e esconder a face sombria do regime totalitário cubano. Muito feio (mas não me surpreende) para um partido que anda falando em democracia, direitos humanos, até em liberdade, essas coisas que Yoani defende e que o regime castrista detesta.

Parece, no entanto, que as pequenas hordas nos aeroportos do Recife e Salvador, em Feira de Santana e que certamente estarão presentes em São Paulo e aonde quer que vá Yoani, bem como o projeto montado contra ela pela embaixada cubana com parceiros brasileiros estão se revelando feitiço que se volta contra os feiticeiros.
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Este arquivo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.