Sexta, 16 de agosto de 2013
Sandra Starling
Do jornal O Tempo (BH)
Diferente de FHC, que teria, segundo a imprensa, dito que nosso país
precisa de “igualdade, pelo menos perante a lei, igualdade formal ainda
que seja”, penso que nem essa basta mais. Precisamos de mais igualdade
substantiva, material, tangível, sensível aos olhos do cidadão comum,
esse eterno escravo da notícia enganosa, do raciocínio tortuoso, da
falácia e das revelações de escândalos sem conta e sem fim, que só se
tornam mais presentes em época de eleições, mas que permeiam o cotidiano
das práticas das autoridades em todos os níveis.
O caso mais recente é o da Siemens, que teria participado de
licitações fraudadas no Estado de São Paulo, desde os tempos de Mário
Covas, e que, agora já se sabe, é useira e vezeira em práticas de
arreglo mundo afora. Meu Deus! E seria essa a única vez em que algo
assim é “descoberto” no Brasil? Esqueceram-se todos, por ventura, do
caso Gtech – uma das investigadas no primeiro governo Lula, na famosa
CPI dos Bingos ou CPI do Fim do Mundo?! Ao que eu saiba, nada se passou,
depois do escândalo.
Seu nome veio à baila, novamente, quando, há pouco, vieram a público
as travessuras e as relações perigosas de Carlinhos Cachoeira. A empresa
teria sido vendida a uma poderosa rede lotérica italiana. E ponto
final. Em que deu tudo aquilo? – Nada, absolutamente nada, exceto
talvez, quem sabe, um desses volumosos processos do TCU em que todos são
responsabilizados por fraudes gigantescas e jamais são pegos pelas
malhas da Justiça.
TERCEIRIZAÇÕES…
O Tribunal Superior do Trabalho revela a tristemente vergonhosa
situação das empresas de terceirização no Brasil, as campeãs de
reclamações trabalhistas, em listagem apresentada na hora em que tentam
votar na Câmara dos Deputados o projeto sobre terceirização de mão de
obra. Ora, quando estive por curtos sete meses na Secretaria Executiva
do Ministério do Trabalho e Emprego, do qual fui defenestrada sem a
menor explicação, em 2003, lá dentro mandei fazer auditorias sobre as
prestadoras de serviço do próprio ministério. O que foi feito dessas
auditorias da CGU, que deixei concluídas, mas que, invariavelmente,
tropeçavam ao fim e ao cabo em testas de ferro de altos escalões da
República?
Em polêmica com o novo ministro Luís Roberto Barroso, o presidente do
STF, Joaquim Barbosa, agora na mira de todos porque seu nome andou
circulando para a presidente da República, contraditou a decisão de
deixar a cassação de mandatos dos parlamentares condenados
criminalmente, indagando: se a Justiça decreta, nesses casos, a perda de
cargo público, por que não fazê-lo no caso dos parlamentares? Diria o
Conselheiro Acácio: em respeito à democracia formal, que diferencia o
servidor daqueles que são eleitos em respeito à soberania da vontade
popular. Soberania essa, todos sabemos, fruto de eleições fraudadas pelo
peso do poder econômico.
Penso, diante disso, que está mesmo faltando boa dose de pudor entre
os nada penitentes devotos da republicana igualdade de todos perante a
lei.
Fonte: Tribuna da Imprensa