Sexta, 29 de novembro de 2013
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E o povo ó! |
Ao ler a pífia entrevista com Dilma que o El País fez, chego a uma conclusão básica:
Ela NÃO ENTENDEU NADA dos protestos de junho! A figura acredita piamente
q os protestos são resultado dos esforços do governo dela em MELHORAR o
país, a renda... Sério?
Ou seja, só ocorreram protestos porque o PT melhorou a qualidade de vida do povo!O.o
A mulher acredita ainda que houve diálogo, que a violência estatal foi
localizada, que os governadores escutaram o povo... Só internando!
As "soluções" apresentadas por Dilma: 1. Gambiarras na Saúde ao invés de
investimentos de verdade, sérios e a longo prazo. 2. Privatizações 3.
Dizer que a piada das "obras de mobilidade" pra Copa são resposta para
protestos posteriores (obras que NÃO ficarão prontas, aliás). 4. Só
isso.
Poderia ainda citar a "Constituinte", mas foi algo tão tosco, mal
pensado e risível que é melhor deixar pra lá. E a "reforma política" é
outra lenda contada repetidas vezes.
As pessoas foram às ruas porque estavam cansadas de ser roubadas,
sacaneadas e vilipendiadas e de ver na TV propagandas maravilhosas de
como suas vidas tinham mudado. A realidade não era comparável à beleza
das propagandas.
O aumento das passagens foi o estopim para a revolta de quem não vê esse
maravilhoso mundo petista da inclusão social. A violência policial, que
Dilma minimiza, foi o catalisador para mais revolta.
O MPL está desde sempre nas ruas, está protestando há anos - inclusive
com o apoio de políticos do PT contra os aumentos de passagem do
neoaliado e neoquerido Kassab -, mas este ano a repressão acabou por se
voltar contra os governos. A insatisfação popular foi maior do que os
governos podiam esperar.
Não, não se trata de uma "classe média" de 291 reais que apenas quer
mais, que com mais renda notou milagrosamente que os serviços públicos
são ruins e quer mais. Se trata de um povo que cansou de serviços
públicos que são simplesmente péssimos, medíocres e que subir ou descer a
renda não mudam o panorama de exclusão.
Foram protestos de pura insatisfação popular com a falta de diálogo, com
a repressão e com a intransigência eterna dos que estão no alto de seus
cargos acenando com o dedo do meio para o povo.
Em meio à todo o cenário de exclusão estádios de bilhões de reais,
promessas de obras faraônicas que não saíram do papel ou que foram (e
estão) sendo executadas sem qualquer diálogo com a sociedade, regras
impostas de fora, pela FIFA, de exceção e tudo tratorado.
Mas num ponto Dilma tem razão, mesmo que de forma involuntária: O PT te
muita responsabilidade pelos protestos. Mas não porque "elevou a renda",
mas porque o PT representou por anos a esperança e a mudança e, no
poder, acabou por se comportar em geral como o PSDB.
Mas um PSDB que funciona, "melhorado", melhor gestor do capitalismo no
país, capaz de vender o país, privatizar e defender abertamente a
repressão policial (né Cardozo?), mas ao mesmo tempo mantendo o discurso
fake de mudança, distribuindo bolsas como solução final para problemas
históricos.
Não sou contra bolsas, não sou contra o Mais Médicos, mas não vejo estes
programas (no caso do último feito às pressas e nas coxas) como a
salvação da pátria e sim como paliativos pensados para problemas
pontuais e usados politicamente (o que é legítimo até certo ponto) para
contentar as massas de tempos em tempos.
Não são mudanças estruturais. Não são mudanças pensadas a longo prazo, são paliativos.
E nisso o PT é mestre.
Os protestos, de certa forma, mostram o limite dessas políticas. O
limite da propaganda dessas "mudanças". Não se trata, como diz Dilma, de
uma população que ascendeu socialmente e quer ter acesso a mais, e sim
de uma população que nunca teve acesso e CONTINUA sem ter. A diferença
parece pequena, mas não é.
O discurso baseado apenas em renda mostra seus limites. Ganhar 291 reais
não leva ninguém à classe média. Permite comprar mais a prazo, comprar
geladeira, fogão, TV, som... Mas não permite viver em local com
saneamento básico, dar educação de qualidade aos filhos... Não permite
sobreviver à chacinas comandadas pela PM ou a ser morto "por engano"
pela PM.
Os protestos de junho mostraram o fracasso da política de paliativos e
imediatismo mal planejado do PT (e o fracasso das políticas históricas
do PSDB e aliados, que jamais vislumbraram o pobre como sujeito de
direitos) e a semelhança entre os projetos de poder do PT e do PSDB,
tendo no primeiro um gestor muito melhor do projeto do segundo.
Pra quem tiver estômago, a entrevista bit.ly/1endbAV