Sexta, 29 de
novembro de 2013
Por Ivan de Carvalho

Mas o PT não está pacificado. Pelo
menos, ainda não está. O partido chegou a ter cinco postulantes à sucessão de
Wagner. O último a surgir foi o primeiro a desistir – o tempo de vida da
candidatura do secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, foi o de uma estrela
cadente. Não que ele esteja desprestigiado no âmbito do governo, até pelo
contrário. Mas sua candidatura não era o caso.
Outro aspirante, o ex-prefeito de
Camaçari e ex-presidente da UPB [União dos Prefeitos da Bahia], Luiz Caetano,
lançou-se por conta própria, fez movimento, alguma mobilização, mas faz um
tempo que oficiosamente já não é aspirante ao governo e cuida de consolidar sua
eleição praticamente certa a deputado federal. Hoje, no diretório, faz um
discurso enfatizando a importância da unidade do partido, oficializando seu
apoio a Rui Costa e declarando-se candidato a uma cadeira na Câmara dos
Deputados.
Como se nota, restam, além de Rui
Costa, dois nomes na lista de pré-candidatos petistas ao governo baiano – o
senador Walter Pinheiro, líder do PT no Senado e o secretário estadual do
Planejamento e ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o preferido
de Lula, que, no entanto, tem sido bastante discreto nessa preferência.
Ainda ontem pela manhã, minutos após o
governador Wagner anunciar que seu preferido para o governo é o chefe de sua
Casa Civil (que durante muitos meses passou, por óbvia delegação não escrita do
governador, a operar como uma espécie de gerente político e administrativo do
governo, função que lhe facilitava trabalhar intensamente a própria
candidatura), Gabrielli deu declarações à rádio Band News FM.
Gabrielli comentou que não se omitiu e
admitiu – primeira vez que isso aconteceu por parte de um petista graduado –
que o partido corre o risco de perder a eleição para o governo. “Não teremos
eleição fácil”, disse, e, depois de uma rápida e convincente análise do cenário
político-eleitoral, disse que “o mais importante é manter o partido unido. A
militância do PT sempre foi um elemento extremamente importante. Se tentarmos
apenas com a vontade do governador, sem mobilizar as bases, teremos risco de
ser derrotados”. A uma questão direta, respondeu: “O governador anunciou o seu
candidato preferido, então... o diretório vai se reunir amanhã (hoje)”.
Alguns viram nesse final um certo
conformismo. De fato, pareceu. Mas não foi assim pacífica a reação do outro
aspirante escanteado, senador Walter Pinheiro. Em entrevista à rádio Tudo FM
ele atirou: “Eu saí da lista do governador, mas continuo na lista do partido. E
aí, PT? Está na mão de vocês. O
nosso nome está lá à disposição e o PT vai dizer se efetivamente me quer como
provável candidato ou se o PT também resolve me dar bilhete azul. Eu estou
mantendo na mão do partido para que o PT possa responder sobre essas questões”.
E completou, ou complicou: “Esse é o momento em que não é possível fazer
retiradas (retirar candidaturas), mas se avaliarem que podem nos retirar, nós
não nos sentiremos diminutos”.
À
tarde, o senador Pinheiro fez um discurso no plenário do Senado, exclusivamente
sobre a escolha do candidato do PT a governador. Recebeu apartes muito
elogiosos. E em entrevista à TV Bandeirantes de Salvador, Gabrielli, secretário
estadual do Planejamento, afastou toda impressão de conformismo que suas
primeiras declarações podem ter deixado: “Minha candidatura está mantida. O importante é a
unidade. Devemos criar um processo (de escolha). Se prevalecer apenas a vontade
do governador...”.
Sintetizando: para Pinheiro e
Gabrielli, a simples absorção do nome preferido do governador pelo diretório põe
em grave risco a unidade do partido e até mais do que isso.
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Este artigo foi
publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é
jornalista baiano.