Sábado,
23 de novembro de 2013
Por
Ivan de Carvalho

Ontem mesmo surgiu informação, a
confirmar, mas com firme aparência de verdade, que a ministra do Superior
Tribunal de Justiça e ex-corregedora nacional de Justiça – função que exerceu
brilhante e corajosamente no Conselho Nacional de Justiça, enfrentando os
“bandidos que se escondem atrás das togas” – vai se filiar ao PSB e concorrer
por este partido, na Bahia, a um mandato eletivo no ano que vem. Presume-se que
ao de senadora.
O site Política Livre, que divulgou a informação obtida nos bastidores
políticos de Brasília, refere que ela culminou articulação pessoalmente
conduzida pelo presidente nacional do PSB, governador de Pernambuco e candidato
a presidente da República, Eduardo Campos.
O PSB e o Democratas vinham trabalhando
há algum tempo pela adesão da magistrada baiana Eliana Calmon e o fato de que a
ministra tenha em seu pensamento, desde os tempos de faculdade de Direito (fui
seu colega de turma na UFBa) o que se poderia chamar de um moderado “viés de
esquerda” haja sido talvez o principal fator a conduzi-la ao PSB, ao invés do
DEM, cujo ideário segue caminho democrático diverso.
Caso entre mesmo na disputa pela cadeira
que estará em jogo nas eleições para o Senado, Eliana Calmon é considerada uma
candidata com amplas possibilidades, havendo muitos políticos na oposição que a
consideram “imbatível”. Se é mesmo imbatível só as urnas dirão, mas que é
forte, dúvida não há. E aí é que nos lembramos da opinião explicitada pelo
vice-governador e secretário estadual de Infraestrutura, Otto Alencar,
presidente estadual do PSD e tido por muitos (até porque ele mesmo fica dizendo
que é o que quer) como candidato governista a senador.
A
opinião de Otto Alencar – uma liderança de forte peso eleitoral no governismo –
expressa antes dessas últimas informações sobre Eliana Calmon, mas certamente
já a incluindo como um dos numerosos fatores do contexto político-eleitoral, é
de que o anúncio do nome do candidato a governador (e possivelmente da chapa
completa às eleições majoritárias, com os candidatos a Senado e
vice-governador) não deveria ocorrer no dia 30 próximo, mas seguir a tradição
baiana de ocorrer depois do carnaval. Até lá já estariam mais evidentes os
personagens presentes no cenário, suas respectivas alianças e a receptividade
do eleitorado, do qual já se poderia sentir com mais consistência do que agora
as vontades.
Pode
muito bem ser que Otto Alencar (cuja advertência não incluiu muitos dos
detalhes da interpretação que lhe dei) se torne apenas “a voz que clamou no
deserto” e o açodamento em curso, cujos planejadores presumem estratégicos,
prossiga impávido – para a vitória ou para as trapalhadas.
Inicialmente
o governismo contava com o PSB em sua coligação e hoje está confrontado com a
candidatura da senadora Lídice da Mata, presidente estadual deste partido (não
importa muito se entusiasmada ou constrangida) a governadora. E então
consolida-se a hipótese do reforço de Eliana Calmon ao PSB. Um segmento
importante da chamada “esquerda” – sem embargo do cheiro de mofo que, a meu
ver, as palavras esquerda e direita hoje exalam na política –
desgarra-se da enciclopédica miscelânea “ideológica” governista. No segundo
turno, caso o PSB não esteja nele, pode voltar ao ninho antigo, pela inclinação
dominante local – ou até não. Eduardo Campos, o presidente nacional do PSB,
conversa muito bem com Aécio Neves, do PSDB e não é simpático a um papo com o
PT, do qual sensatamente considera haver descoberto que apenas o estava
enrolando ad aeternum.
Bem, e não está claro como vai terminar
o arranca-rabo PP-PDT pela candidatura governista a vice-governador nem como
procederá o PDT na Bahia, que “não aceita ser humilhado com a exclusão da
chapa” às eleições majoritárias, segundo seu presidente regional Alexandre
Brust disse ao governador. E como procederá o PDT nacional ao tratamento que
lhe der o governo do PT até junho? E as oposições tradicionais disputarão o
governo com o democrata Paulo Souto, o peemedebista Geddel Vieira Lima ou quem?
Ora, afinal, a “voz que clama no
deserto” pode ter razão. Nos registros bíblicos, tem. No mundo profano da
política, como diria Caetano, pode ter. Ou não.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.