Sábado, 19 de julho de 2014
Por Murilo Rocha
A
Copa foi um sucesso dentro e fora de campo. É consenso. As pesquisas de
opinião realizadas com os turistas gringos, os números do governo
federal, dos Estados e das prefeituras corroboram o êxito. O país fez
uma grande festa, e a hospitalidade do brasileiro obteve o maior índice
de aprovação em todos os levantamentos.
Mas,
e agora? Será feriado quando ocorrer quaisquer outros grandes eventos
nas cidades? Teremos esquemas especiais de transporte para levar e
buscar o trabalhador todos os dias? O reforço do policiamento será
mantido para dar segurança aos moradores? E os aeroportos? As companhias
aéreas vão respeitar os horários e disponibilizar funcionários em todos
os guichês como ocorreu durante o Mundial? E a cordialidade com os
estrangeiros será mantida com o vizinho, com o motorista do carro ao
lado? E dentro de campo também vamos conseguir manter o nível da Copa?
Infelizmente, o legado
positivo do Mundial parece se esvair rapidamente com a volta da rotina e
da mediocridade das administrações públicas enquanto heranças ruins do
evento começam a ser naturalizadas como se sempre tivessem feito parte
do cotidiano.
Os ingressos dos jogos
de futebol, por exemplo, foram puxados para cima antes da Copa com a
construção das arenas no lugar dos antigos estádios, chegaram ao ápice
do absurdo durante o Mundial, sendo vendidos por R$ 300, R$ 500, R$
1.000 – sem contar a inflação dos cambistas – e agora retornam a um
elevado patamar de R$ 100 a R$ 200. A elitização tão criticada nas
partidas entre seleções veio para ficar no dia a dia das competições
nacionais de clubes, com baixo nível técnico, mal-organizadas e sem
grandes atrativos para o público. Ou seja, continuará pagando-se caro
por um produto infinitamente inferior.
MANIFESTAÇÕES
Também parece ter ficado
como legado a se lamentar da Copa, como já foi dito na coluna anterior,
a criminalização de manifestações. Contra protestos por moradia, de
professores ou de qualquer outra classe de trabalhadores, a Polícia
Militar destacou aparatos e estratégias típicas de guerra.
Ao analisar as
percepções acerca do Mundial, chega-se à conclusão de uma bela festa.
Com o fim do baile e a partida dos convidados, desmonta-se a estrutura,
retiram-se os ornamentos, e tudo volta à realidade. Os problemas de
antes persistem, mesmo momentaneamente encobertos por uma boa ressaca.
O país, de forma
objetiva, sai do Mundial como entrou. Não há grandes mudanças no cenário
econômico nem no político. Fica apenas aquele sentimento subjetivo de
orgulho por ser considerado um povo alegre e acolhedor. O legado talvez
seja o de tomar consciência de ser impossível operar transformações com
alterações superficiais.
(transcrito de O Tempo)
Fonte: Tribuna da Internet
