Quarta, 1º de julho de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Por Kiko Nogueira - Via DCM
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Malafaia e o ativista LGBT Toni Reis na Câmara. |
O que acontece com um sujeito que vive de pregar o ódio — inclusive, e especialmente, na televisão aberta?
Depende.
Num discurso inflamado, parte de sua estratégia para tentar a vaga de
candidato do partido Republicano à presidência dos EUA, o empresário
Donald Trump partiu para cima dos imigrantes mexicanos. “Eles estão
trazendo drogas, eles estão trazendo crime, eles são estupradores”,
disse.
O furor foi imediato. Graças à reação da opinião pública, a rede NBC
anunciou que está “cortando os laços comerciais” com Trump. “O respeito e
a dignidade para com todas as pessoas são pedras fundamentais de nossos
valores”, afirma um comunicado oficial.
Eventos como Miss USA e Miss Universo, produzidos por Trump, não
serão mais exibidos. Ele também não aparecerá no reality show “O
Aprendiz”. Dias antes, a Univision, canal latino, cancelou sua parceria
com Trump por causa de “seus comentários insultuosos sobre imigrantes
mexicanos”.
Não foram os primeiros e não serão os últimos. Ele está ameaçando
processar. Também proibiu os executivos da Univision de usar o campo de
golfe de seu resort em Miami. Chamou a NBC de “fraca” e de se dobrar ao
“politicamente correto”.
Mais de 200 mil haviam assinado uma petição online da change.org
solicitando que a NBC deixasse de transmitir os concursos de beleza
porque isso significava “apoiar um indivíduo narcisista e odioso” que
aprofunda “uma tendência crescente de preconceito e divisão neste país”.
Soa familiar?
Agora vejamos o caso de Silas Malafaia e a Band.
O pastor picareta tomou, recentemente, uma traulitada inesquecível de
Ricardo Boechat na Band News FM. “Malafaia, vai procurar uma rola, vai.
Não me encha o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra,
tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia”, falou Boeachat.
Malafaia, como Donald Trump, é narcisista e odioso — até ele, em seu
tugúrio, deve concordar. Sua indignação histérica com Boechat o levou,
mais uma vez, a ofender gays (“gayzistas”), jornalistas e tudo o mundo
que não comunga de sua doença (“esquerdopatas”).
Pois Silas ganhou um prêmio. Depois de, segundo ele mesmo, conversar
com Johnny Saad, dono da Band, terá um “direito de resposta”. Vai
participar de uma entrevista, obviamente fajuta (se é ruim para Boeacht,
pobre do cidadão escalado para a função).
A NBC fez um cálculo do quanto perderia ao se livrar de Trump, não
apenas financeiramente. A sociedade se mexeu e prevaleceu uma visão de
longo prazo.
A Band cede a um psicopata monomaníaco que lhe compra horários. De
acordo com o Uol, a venda de espaço para igrejas evangélicas lhe rende
300 milhões de reais por ano. As principais denominações são Universal,
Internacional da Graça de Deus e Associação Vitória em Cristo, de Silas
Malafaia.
Malafaia tem das 12h às 13h dos fins de semana para suas pregações
com abrangência nacional. Em alguns estados, aparece também das 8h às
9h. No ano passado, o Ministério Público Federal começou a investigar
essa locação da grade para grupos religiosos.
Há canais que comercializam quase toda a sua programação. Um deles é o
21, do grupo Bandeirantes, com mais de 20 horas diárias nas mãos de
evangélicos. Para o MP, essa comercialização contraria a Constituição,
já que estamos falando de concessões públicas.
A petição para a NBC, de autoria de Guillermo Castañeda Jr, afirma
que Trump precisa “que lhe mostrem que seu comportamento pertence ao
passado” e que “é tempo para ele e gente como ele se mudarem para este
século”.
Soa familiar?
Sim, mas enquanto um perde palanque, outro ganha mais voz.