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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Em 1996, um tiro disparado por um policial militar matou Maicon, uma criança de 2 anos, em Acari

Quinta, 6 de agosto de 2015
Da Anistia Internacional

Durante todos esses anos, o pai de Maicon, José Luis, lutou por justiça, mas até hoje ninguém foi responsabilizado - e o caso deve prescrever no ano que vem.



Eduardo, de 10 anos, esperava a irmã chegar da escola na porta de casa no Complexo do Alemão, quando foi atingido por um tiro disparado por policiais militares em abril deste ano.

Sua mãe afirma que a cena do crime quase foi desmontada pelos policiais, que foram impedidos por moradores da comunidade.

“Eles chegaram perto do meu filho dizendo que iam levar o corpo. Eu disse que eles não iam tirar o meu filho de lá porque eu não ia deixar. Eles estão acostumados a fazer isso, carregar o corpo e dar sumiço. Eles dando sumiço, não acontece nada.”
Alan, de 16 anos, estava na rua com dois amigos depois de voltar do shopping. Eles haviam pedido uma pizza e estavam esperando a entrega enquanto conversavam, gravando um vídeo no celular.

Depois de um minuto de gravação, tiros são ouvidos e o celular cai no chão. Alan e um de seus amigos foram atingidos por tiros disparados por policiais militares.

Os policiais colocaram os dois na viatura e partiram, violando a cena do crime. Um policial registrou o caso, informando que haviam sido “surpreendidos por homens armados”, houve confronto com a polícia e armas foram apreendidas na ação.

O vídeo que ficou gravado no celular de Alan veio a público dias depois, revelando o que realmente havia ocorrido. Somente depois disso, os policiais envolvidos foram afastados, e o caso foi investigado.

Estas três histórias que se repetem não deixam dúvidas de que a polícia militar usa força letal de forma desnecessária, excessiva e arbitrária. Infelizmente, existem muitas histórias como essas no Rio de Janeiro.

Em um período de dez anos, mais de 5 mil pessoas foram mortas em operações da polícia militar apenas na capital. Num país onde menos de 8%
dos casos de homicídio são julgados, os decorrentes de intervenção policial têm taxas ainda piores devido às graves falhas no processo de investigação. Essa impunidade alimenta o ciclo de violência.
Todos os casos de homicídio decorrentes de intervenção policial devem ser investigados. Não podem pairar dúvidas sobre a legitimidade do uso extremo da força pela policia porque ela o faz em nome do Estado, em nome da sociedade. A devida investigação e transparência sobre estes casos é fundamental para assegurar que as forças policiais operem, antes de mais nada, em defesa da vida.

Este ciclo de violência e impunidade precisa ter fim.

Abraços,

Atila Roque
Diretor Executivo
Anistia Internacional Brasil


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