Domingo, 16 de agosto de 2015
Da Tribuna da Internet
Sebastião Nery
Os deputados não enriqueciam, diz Tourinho
Foi meu colega na saudosa Faculdade
de Direito da Universidade Federal de Minas e contemporâneo na Câmara Federal
(1975–83 pelo MDB e PMDB mineiro). Agora, Genival Tourinho está escrevendo um
livro comparando o estilo de vida dos parlamentares de sua geração com os dos
atuais: – “Quanto mais recordo mais fico indignado”.
No meio do mês, era comum que os
colegas da Câmara formassem filas em uma agência da Caixa Econômica Federal
para pegar um empréstimo para segurar o resto do mês:
– “Nós trocávamos avais. Eu cansei
de pedir ao colega Tancredo Neves que fosse meu avalista, E eu o avalizava
quando ele precisava.”
Advogado e excelente parlamentar,
Genival demonstra que a Câmara nunca foi, ao longo da sua história, um clube de
privilégios e mordomias. Quando era no Rio e nos primeiros anos de Brasília, os
deputados não tinham gabinetes privativos. Além do subsídio mensal, havia a
verba de transporte: 4 passagens aéreas de Brasília até a capital do seu
Estado. Tinham direito de contratar 3 funcionários. E o apartamento funcional.
CÂMARA
Tudo mudou a partir de 1991, quando
a mesa da Câmara promoveu “reforma administrativa” alargando benefícios que se
estendem até hoje. Penduricalhos foram introduzidos com verbas variadas e
podendo contratar até 27 funcionários. O estilo da representação mudou e não
foi para melhor.
Aprovada a Constituição, o
presidente da Câmara Ulysses Guimarães indicou o economista e professor Helio
Duque, baiano do PMDB do Paraná, ex-presidente da Comissão de Economia da
Câmara e um dos vice-presidentes da Executiva Nacional do PMDB, para integrar a
Comissão de Orçamento. Sábio e experiente, Ulysses desconfiava do que acontecia
lá.
Helio ficou 15 dias, renunciando e
relatando ao presidente da Câmara o que lá ocorria: um grupo de parlamentares
era subordinado aos interesses das grandes empreiteiras nacionais. Dois anos
depois Helio não era mais deputado e o escândalo dos “Anões do Orçamento”
chocou o Brasil, levando à cassação do mandato de vários dos seus membros.
O Mensalão e o Petrolão têm pai e
mãe.
BANCOS
No começo do Ajuste Fiscal , o
governo petista da Dilma e do Lula anunciou que ia “taxar os lucros dos bancos
e financeiras, as grandes fortunas e as heranças”. O tempo foi passando e não
se fala mais nisso. Mas o governo não esqueceu de taxar os salários dos
trabalhadores, as aposentadorias dos trabalhadores, as pensões dos
trabalhadores e aumentar os impostos das pequenas e medias empresas.
Escondido, com vergonha, os
jornalões, que pertencem aos bancões, deram a noticia escabrosa: o lucro dos
bancos chegou a 46%! Em um pais em recessão, com um “crescimento do PIB abaixo
de 0%”, não há noticia mais pornográfica. E o Banco Central, a gorda dona do
bordel, aumentou a taxa básica de juros para 14,25%, a maior do mundo, alegando
despudoradamente que é para baixar a inflação. E a inflação subindo.
PIRÃO
Os jornalões não se envergonham de
defender o ajuste fiscal só contra quem vive de salário ou aposentadoria e
contra a indústria e comércio que produzem. Sabem por que? “O “Globo” abriu o
jogo:
“O governo vai honrar o acordo feito
na Câmara para não impor vetos à desoneração da folha de pagamento de setores
da economia acordados com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na negociação
com a Câmara, segundo fontes do Planalto, o governo concordou em manter a
desoneração para três setores: call centers, transportes e comunicações”.
Vejam bem que coisa mais sórdida.
Aumento de impostos para todo mundo, menos para “comunicações” (jornais, rádios
e TVs) , “transportes” (ônibus, metrôs, trens) e “call centers” (centrais
telefônicas)
Eles passam dia e noite falando em
“liberdade de expressão”, “igualdade de direitos”, “sacrifícios coletivos”. Mas
põem a faca na garganta do governo só em defesa dos interesses deles.
Farinha pouca meu pirão primeiro.
BOMBA
JUCÁ
O senador Jucá, do PMDB de Roraima,
líder da Dilma no primeiro mandato, jogou um bomba no Planalto na “Folha de S.
Paulo” de sabado:
1.- “O quadro de uma eventual
deposição da presidente da República não está maduro. Ou o governo muda ou o
povo muda o governo”.
2.- “Vai piorar. A arrecadação
federal está caindo, a atividade econômica está caindo, os Estados estão
começando a quebrar, os setores que ainda empregaram no primeiro semestre, como
o comércio e serviços, vão desempregar no segundo semestre, com a classe média
com risco de desemprego. Então todo mundo vai ser o mais conservador possível.”
3.- “O governo está na UTI. Pelo
amor de Deus não racionem o oxigênio porque depois vai morrer e ai não adianta,
já passou a hora”.