Domingo, 9 de agosto de 2015

QUEDA NO PREÇO DO PETRÓLEO E OS INTERESSES DOS ESTADOS UNIDOS
Wladmir Coelho
Existe uma vasta literatura revelando as ligações
financeiras entre a família real árabe e as empresas petrolíferas
estadunidenses. Esta aproximação, segundo estas mesmas fontes, encontram na
família Bush o seu principal apoio.
O jornalista Graig Unger em seu livro “As famílias
do Petróleo”, ilustrando esta amizade entre as duas famílias, revela toda a
estrutura montada para proteger os membros da realeza árabe residentes nos
Estados Unidos durante o 11 de setembro.
A logística de proteção dos nobres árabes
compreendeu a abertura do espaço aéreo permitindo a decolagem de um avião
levando para a casa príncipes e princesas que sentiam-se ameaçados nos Estados
Unidos.
Enquanto isso os outros residentes de origem árabe
eram acusados, atacados, presos. Para o capital apenas um detalhe. A proteção
dos príncipes da família Saud representava e representa a continuidade do
atendimento às necessidades comerciais, políticas e militares dos EUA no
Oriente Médio.
A contradição entre o aumento da produção e queda
no preço
Os árabes possuem a maior produção de petróleo do
mundo investindo parcela considerável destes recursos nos Estados Unidos. Neste
país participam, inclusive, do controle da refinaria Motiva Enterprises, a
maior dos EUA, cuja principal função é refinar o petróleo de xisto.
Apesar da queda no valor do petróleo, em grande
parte decorrente do aumento da produção do óleo de xisto no Canadá e Estados
Unidos, a produção petrolífera em junho de 2015 na Arábia Saudita superou os 10
milhões de barris ao dia.
Esta produção foi exportada, em grande parte, para
a Ásia e Índia. Observem neste ponto o favorecimento dos príncipes amigos
diante das sanções impostas ao Irã e a Rússia grandes fornecedores da região.
A família Saud, como podemos observar, recolhe de
seus investimentos e sociedades comerciais com as oligarquias estadunidenses as
vantagens decorrentes da queda da produção forçada no Irã e Rússia. Devemos
acrescentar que a política externa dos Estados Unidos desorganizou a produção
petrolífera de outros grandes exportadores dentre eles Iraque e Líbia.
Somente no caso do Irã, efetivado de forma plena o
fim das sanções, tornam-se necessários US$ 200 bilhões para regularizar a
produção considerando-se investimentos para a modernização dos equipamentos e
perfuração de novos poços.
Príncipes ricos povo pobre
A indústria petrolífera árabe é responsável por 90%
das receitas nacionais, todavia os empregos gerados no setor encontram-se
destinados à estrangeiros cuja presença calcula-se em 6 milhões.
A população total da Arábia Saudita conta-se em
28,83 milhões e destes dois terços possuem menos de 30 anos de idade. A
juventude, faixa entre 16 e 29 anos, representa 29% dos desempregados.
Fica evidente a ausência de uma destinação social
aos recursos decorrentes da exploração petrolífera predominando os interesses
do lucro ou eficiência produtiva como preferem os chamados “investidores”.
Preço do petróleo e geopolítica
O exemplo dos príncipes da família Saud revela o
quanto é ilusório a famosa mão invisível. O preço do petróleo resulta dos
interesses, consubstanciados, do Estado e oligopólios.
O aumento ou redução da produção encontra-se
submetido à política econômica estabelecida em beneficio dos oligopólios
apoiados pela estrutura estatal, diplomática e militar, responsável pela
aplicação do modelo em seu território ou fora deste.
A estrutura ideológica (monopólio da imprensa,
educação, corrupção política...) fica encarregada de legitimar e dogmatizar os
interesses do chamado mercado fantasiando de natural as ações dos
oligopólios.
Desorganizar a produção revela-se um prejuízo aos
detentores dos direitos de exploração em determinado território, mas não
significa a ausência de lucro para os oligopólios.
O controle mundial da produção garante, com simples
ajustes, a sobrevivência de um modelo. Aos oligopólios importa o controle da
política econômica do petróleo envolvendo, neste caso, não apenas as áreas
produtivas mas aquelas com potencial.
Esta prática determina o quanto será permitido a um
país o controle e acesso aos recursos naturais existentes em seu território. A
existência da mínima possibilidade de quebra deste modelo é combatida e
destruída existindo na história inúmeros exemplos.