Quarta, 3 de fevereiro de 2016
André Richter - Repórter da Agência Brasil
O empresário Fernando Moura Hourneaux, investigado na Operação
Lava Jato, disse hoje (3), em depoimento ao juiz federal Sergio Moro,
que recebeu propina por ter ajudado na indicação do ex-diretor de
Serviços da Petrobras Renato Duque. Moura também reafirmou que o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, deu a palavra final sobre a
indicação de Duque para o cargo.
Ele prestou novo depoimento ao juiz, após ter admitido que mentiu durante o primeiro interrogatório, na sexta-feira (22).
O
empresário manteve seu depoimento de delação premiada e declarou que
levou o nome de Duque à Casa Civil, chefiada na época por Dirceu.
Segundo o delator, Dirceu não conhecia o ex-diretor antes de nomeá-lo.
Em troca da participação na indicação, Moura afirmou que recebia U$S 30
mil trimestrais da Construtora Etesco e pagamentos da empresa Hope, por
meio de outro delator, Milton Pascowith. Ambas tinham contratos com a
Petrobras.
Segundo Fernando Moura, a indicação de Duque
para a Diretoria de Serviços foi decidida em uma reunião na Casa Civil,
quando foram fechadas as nomeações para as diretorias da estatal. Ele
disse que não estava presente à reunião, mas tomou ciência dos fatos por
meio de Silvio Pereira, ex-secretário do PT.
"Quando chegou na
Diretoria de Serviços, houve um impasse entre a indicação do Edmilio
Varela, que era o antigo diretor, e a de Renato Duque. Quando foi
questionado quem estava indicando o Edmilio Varela, o Delúbio [Soares,
ex-tesoureiro do PT] não poderia falar que era ele. O Delúbio disse que a
indicação era do Aécio Neves [senador]. Eles chamaram o ministro José
Dirceu para decidir qual dos dois seria. Quando ele chegou à reunião,
disse que o Aécio fora contemplado com Furnas e ficaria Renato Duque."
Informações falsas
Antes
de iniciar o depoimento, o delator pediu desculpas a Moro e disse que
havia sido desrespeitoso com o magistrado no primeiro depoimento.
Questionado pelo juiz sobre os motivos pelos quais prestou informações
falsas durante o primeiro depoimento, Moura reafirmou que se sentiu
intimidado por uma pessoa que perguntou sobre seus netos em Vinhedo
(SP), onde mora.
"O senhor prestou depoimento aqui perante mim. O
senhor mesmo utilizou esses termos, que o senhor teria agido de forma
desrespeitosa, com tom jocoso. O senhor não parecia pessoa ameaçada",
afirmou Sérgio Moro.
"Eu estava preparado para fazer o que eu
fiz. Meus advogados não tinham conhecimento nenhum disso. Só passei para
meus advogados depois. Eu me preparei para isso como forma de proteção à
minha família", respondeu Fernando Moura.
"Se o senhor estava
nervoso, porque não transpareceu nervosismo no depoimento. Eu fiz seu
depoimento. Eu colhi e você não estava nervoso", reiterou o juiz.
"Eu
tinha me preparado para o que eu ia fazer. Tanto que não comuniquei
nada para meus familiares e nem para meus advogados", acrescentou o
delator.
Ação Penal
Os depoimentos
ocorrem na ação penal em que Dirceu e mais 15 investigados foram
denunciados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. A acusação contra Dirceu e os demais denunciados se baseou
nas afirmações de Milton Pascowitch, em depoimento de delação premiada.
O
delator afirmou que fez pagamentos em favor de Dirceu e Fernando Moura.
Segundo os procuradores, o dinheiro saiu de contratos entre a Engevix e
a Petrobras e teriam passado por Renato Duque.
José Dirceu está
preso preventivamente desde agosto do ano passado em um presídio em
Curitiba. A defesa do ex-ministro disse que a denúncia é inepta, por
falta de provas. Conforme os advogados, a acusação foi formada apenas
com declarações de investigados que firmaram acordos de delação
premiada.
Dirceu
Na semana passada, o ex-ministro Civil José Dirceu
prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro e negou que tenha indicado
Renato Duque para a diretoria da Petrobras. Dirceu também declarou que
teve seu nome usado na Petrobras e que nunca autorizou ninguém a falar
em seu nome.
PSDB
Em nota divulgada na
semana passada, o PSDB negou ter indicado qualquer pessoa para cargos
durante os governos do PT. “O PSDB nunca fez indicação para cargos em
estatais durante os governos do PT, não tendo, portanto, qualquer
responsabilidade sobre a gestão da Petrobras”.
A assessoria
de imprensa do PSDB divulgou hoje uma nova nota, por meio da qual
afirma que "a declaração, requentada e absurda, repete uma vez mais a
velha tentativa de vincular o PSDB aos crimes cometidos no governo
petista. O PSDB jamais fez qualquer indicação para o governo do PT. O
senador Aécio Neves não conhece o lobista, réu confesso de diversos
crimes, e tomará todas as providências cabíveis para desmontar mais essa
sórdida tentativa de ligar lideranças da oposição aos escândalos
investigados pela Operação Lava Jato".