Terça, 18 de abril de 2017
Daniel Isaia - Agência Brasil
Os marqueteiros João Santana e Monica Moura
afirmaram hoje (18) que receberam dinheiro de caixa 2 para coordenar a
campanha de Dilma Rousseff à presidência da República, em 2010. Em
depoimentos anteriores, o casal havia dito que os pagamentos recebidos
na Suíça eram referentes a campanhas realizadas fora do Brasil.
“Na
época, ainda atordoado pela prisão, preocupado com a estabilidade
política e com a própria manutenção no cargo da presidente Dilma, eu
menti”, afirmou Santana ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba. Esta é a primeira vez que os publicitários são ouvidos na
condição de delatores, após homologação do acordo de colaboração pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O
casal disse ter recebido ao menos R$ 15 milhões entre 2010 e 2011 como
pagamentos não registrados para a campanha do PT ao Planalto. Parte
desse dinheiro também teria sido referente a trabalhos que os
marqueteiros realizaram posteriormente, em 2012, para candidatos do
partido em pleitos municipais e para a campanha de Hugo Chávez à
presidência da Venezuela, segundo os depoimentos.
Além disso,
Santana e Monica afirmaram que os pagamentos de caixa 2 eram feitos pela
Odebrecht em espécie, quando no Brasil, ou em depósitos na conta off-shore Shellbill, na Suíça.
O
casal também revelou ter trabalhado na campanha de Mauricio Funes à
presidência de El Salvador, em 2009, a pedido do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Monica Moura disse a Moro que havia um interesse
do PT que um partido de esquerda vencesse aquele pleito. “Em vinte anos
de democracia naquele país, até então a direita sempre havia ganhado
todas as eleições. Esse [Funes] foi o primeiro candidato de esquerda que
ganhou uma eleição em El Salvador”, explicou a publicitária. Este
trabalho rendeu a ambos R$ 5,3 milhões, pagos também pela Odebrecht.
"Caixa 2 é regra"
Durante
a audiência de hoje, Monica Moura disse a Sergio Moro que o pagamento
de campanhas eleitorais por meio de caixa 2 é a regra no Brasil. “Não
acredito que exista no país um único marqueteiro que trabalhe apenas com
caixa 1. É uma exigência dos partidos que a maior parte [dos recursos]
esteja em caixa 2”, ressaltou.
A marqueteira também disse que o
casal sempre tentou que os pagamentos fossem feitos dentro da
legalidade. “Mas a explicação que sempre nos deram é que o partido não
podia porque campanha é muito cara. Marketing é caro, para ser bem
feito. Com pouco, se faz campanha mal feita. Campanha bem feita, como
televisão bem feita, como novela bem feita, como filme bem feito, é
caro”.
João Santana afirmou ter caído em uma “armadilha”
construída pelas suas próprias convicções. Ele disse que criou um "duplo
escudo mental" que o permitiu seguir adiante com o recebimento de
pagamentos ilegais. “Um [escudo] social e externo, que era a doutrina do
senso comum do caixa 2, e outro interno, que é ‘recebo pelo trabalho
honesto que estou fazendo’”, explicou.
O publicitário também
falou que foi cúmplice de um sistema eleitoral corrupto e negativo. “Não
estou aqui, demagogicamente, dizendo que eu não tinha culpa, que só fui
vítima disso, não; eu fui agente disso. Não que os grandes responsáveis
sejam marqueteiros, mas acho que é o momento de os próprios
marqueteiros abrirem os olhos sobre isso, e da Justiça também”,
completou Santana.