Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O marxismo da banca

Quinta, 24 de janeiro de 2019
Por Pedro Augusto Pinho
O mais importante movimento, nesta segunda década do século XXI, ocorre na França. E tem sido ignorado por quase todos os meios de comunicação. Até o conhecido Le Monde, quando os coletes amarelos, pela terceira semana, paravam Paris e quase toda França, preferiu dar manchete de resultado esportivo.

Aqui, no Brasil colônia, as melhores e mais competentes análises vem do site Duplo Expresso, que tem, além dos seus responsáveis Romulus Maya (Suíça) e Wellington Calasans (Suécia), a comentarista Patricia Vauquier, residente em Paris, doutora em administração de empresas, arquiteta e, o mais relevante, de absoluta integridade intelectual e argutas observações, e o atuante antropólogo João de Athayde, que reside próximo a Marseille.

Tem sido pelo Duplo Expresso e pelo Le Figaro, além de noticiários do canal TV5, que acompanho este movimento. As análises são obviamente de minha única responsabilidade. Como é do conhecimento até do mundo mineral, diria Mino Carta, o sistema financeiro internacional, a banca, tomou diretamente o governo francês com a eleição de Emmanuel Macron.

             Devemos estar alertas nos                                     tempos das informações que iludem


Antes a banca já mandava. Desde o socialista François Mitterand (1981–1995), passando pela direita de Jacques Chirac (1995–2007) e Nicolas Sarkozy (2007–2012) e pelo socialista François Hollande (2012–2017), a banca foi tomando conta do Estado Nacional e promovendo a eliminação da classe operária.

A banca, mais do que muitos comunistas, acredita no poder revolucionário do operariado e procurou “uberlizá-lo” ou “cenepejotá-lo” (neologismos do neotrabalhismo, com o trabalho dos Uber e de empregados com CNPJ em vez de carteira do trabalho).

Com isso, enfraqueceu sindicatos e uniões operárias, mas criou uma “classe média” que não pretende perder seus ganhos econômicos e status social. É esta classe média que, há mais de dez semanas, aos sábados ocupa ruas parisienses, e por toda a semana praças de pedágio, estabelecimentos públicos e estradas, por toda França.

Macron, ex-executivo das mais antigas casas bancárias, os Rothchilds, tem sido obrigado a revogar medidas aprovadas e não consegue “avançar” no desmonte do Estado e dos direitos, aqui chamadas “reformas”.

O processo de desinformação, típico da banca, procurou, no início das manifestações dos “gilets jaunes”, atribuí-las à extrema direita, envolvendo Marine Le Pen. Tentava, assim, isolar a France Insoumise, movimento de esquerda liderado por Jean-Luc Mélenchon, que despontara nas últimas eleições.

No entanto, quer do lado dos coletes amarelos, quer da própria dirigente da Reunião Nacional (Rassemblement National), houve desmentido sobre a iniciativa do movimento. Ele fora de algum modo espontâneo, provocado por vítimas da banca. Hoje, mesmo com o ensurdecedor silêncio da imprensa, quase inteiramente dominada pela banca, os coletes amarelos já estão na Bélgica, na Holanda, na Itália e, nas vésperas do Natal (21/12) chegou a Portugal.

O Brasil colônia ainda prefere discutir questões identitárias, o rosa e o azul, quem vai atirar primeiro, o mocinho ou o bandido?, o cowboy ou o índio?, deixando a banca levar o pré-sal, a Embraer, a Base de Alcântara, as terras férteis e a Amazônia brasileira, além do nióbio, terras raras e outros minerais.

Enquanto isso, a bolsa sobe para que os estrangeiros realizem seus lucros e fujam enquanto é tempo. O boletim do InfoMoney, em 27/11/2018, questionava: por que os estrangeiros estão saindo do Brasil mesmo com a vitória de Bolsonaro?

Sem pretender estar tirando as férias de Deus, neste verão carioca, arrisco alguns palpites. A banca está forçando medidas mais enérgicas do “Governo Bolsonaro”, contra o povo e a favor da banca, como a “reforma da previdência”, transferindo valores do orçamento público para escoarem nas especulações do cassino (ou mercado), a entrega de todas as reservas de petróleo descobertas pela Petrobras que ficará com os encargos técnicos das produções pois as empresas estrangeiras de petróleo não tem a mesma competência (ou competitividade), extinção do Sistema Único de Saúde (SUS) beneficiando as seguradoras internacionais etc. etc. etc.

Também as medidas protecionistas que se espera do Federal Reserve (Fed), o banco central estadunidense, deverão derrubar as bolsas latino-americanas. Vender na alta e comprar na baixa ainda está em moda, mesmo nestes tempos de desregulações e liberdades contratuais.

Estas são hipóteses. Porque coletes amarelos, aqui, nem na cor das faces de dirigentes de partidos ditos de esquerda, que só aguardam um pretexto para se assumirem aliados da banca.

No entanto, devemos estar alertas nos tempos das informações que iludem, para esta exportação de coletes amarelos. Nunca esquecer que a Irmandade Muçulmana foi criação do MI6, inglês, e a CIA (Central Intelligence Agency) estadunidense é uma especialista em Lava Jatos e Cabos Anselmos.

Pedro Augusto Pinho, Administrador aposentado.