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(Millôr Fernandes)

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Gasto público com saúde nos países das Américas está abaixo do recomendado, diz OPAS

Sábado, 16 de fevereiro de 2019
Da
ONU no Brasil
Relatório publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostrou que o gasto público em saúde como percentual do Produto Interno Bruto (PIB) é de 5%, em média, nos países das Américas — abaixo dos 6% recomendados pela Estratégia da OPAS para o Acesso e Cobertura Universal de Saúde.
O percentual na América do Norte (8%) é o dobro do registrado na América Latina e Caribe (4%) — no Brasil, o gasto é de 3,8% do PIB.

O desembolso direto como percentual do gasto total com saúde nas Américas foi de 22% a partir de 2015. A estratégia da OPAS recomenda a eliminação total dos pagamentos que as pessoas fazem de seu próprio bolso, porque constituem uma barreira significativa de acesso aos serviços de saúde.
Foto: EBC
Foto: EBC
A região das Américas abriga mais de 1 bilhão de pessoas. A cada ano, 15 milhões de bebês nascem e quase 7 milhões de pessoas morrem. A expectativa de vida é de 80,2 anos para as mulheres e de 74,6 para os homens. Mais de oito em cada 10 pessoas vivem em áreas urbanas. Essas são algumas das principais estatísticas apresentadas nos novos “Indicadores Básicos 2018”, publicados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O compêndio, produzido anualmente, apresenta dados mais recentes de 49 países e territórios sobre a situação demográfica e socioeconômica das Américas, o estado de saúde da população, os fatores de risco e a cobertura dos serviços e sistemas de saúde.
“Os indicadores são um elemento essencial na produção de evidências em saúde”, afirma a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne, no prefácio da publicação. Tal evidência significa que “a tomada de decisões será mais bem informada e levará a mais oportunidades para intervenções efetivas que tenham um impacto maior nos resultados de saúde”.

Estado da saúde

O documento mostra – entre outras descobertas – que aproximadamente 6 mil mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez a cada ano na região, e houve mais de 163.700 óbitos infantis.
A publicação também detalha que as mulheres nas Américas têm em média dois filhos, enquanto mães adolescentes (de 15 a 19 anos) dão à luz 48 bebês por cada 1.000 mulheres, com diferenças sub-regionais variando de 18 nascimentos de adolescentes por cada 1.000 mulheres na América do Norte a 61 por 1.000 na América Latina e no Caribe.
As doenças não transmissíveis – como enfermidades cardíacas, câncer e derrame – são as principais causas de morte nas Américas. Em toda a região, a taxa de mortalidade por doenças não transmissíveis é de 427,6 pessoas por 100 mil habitantes, o que é sete vezes maior do que a taxa de mortalidade por doenças transmissíveis (infecciosas), com 59,9 pessoas por 100 mil habitantes.
Em 2017, a América Latina e o Caribe notificaram aproximadamente 580 mil casos de dengue (44% desse total foram registrados no Brasil), mais de 31 mil casos de hanseníase (quase 90% no Brasil) e mais de 13,8 mil casos de cólera (99% no Haiti). A taxa de diagnóstico do HIV foi de 14,6 pessoas por 100 mil habitantes em toda a região e, para cada novo diagnóstico de HIV entre as mulheres, houve 3,6 diagnósticos de HIV entre homens.

Fatores protetores e de risco para a saúde

Também são apresentados números sobre fatores de risco (variáveis que aumentam as chances de problemas de saúde) e fatores de proteção (que reduzem esse risco). Por exemplo, o leite materno é um fator de proteção, porque atende a todas as necessidades nutricionais e imunológicas de uma criança pequena.
No curto prazo, o leite materno reduz o risco de doença e morte por diarreia, infecções respiratórias e auditivas, além de síndrome da morte súbita infantil. No longo prazo, reduz o risco de má oclusão dentária, sobrepeso/obesidade e diabetes mellitus. Nas mulheres, reduz o risco de câncer de mama invasivo, câncer de ovário, sobrepeso/obesidade e diabetes.
Apesar das amplas evidências de que a amamentação beneficia a saúde da criança, o desenvolvimento cognitivo e provavelmente até mesmo suas perspectivas econômicas de longo prazo, a prevalência do aleitamento materno exclusivo aos seis meses varia consideravelmente entre os países: de 2,8% a 68%.
Em relação aos fatores de risco, 8% dos recém-nascidos da região têm baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg). A desnutrição crônica afeta 10% das crianças menores de 5 anos e 6% das crianças da mesma faixa etária estão acima do peso (dados de 2012). As taxas de sobrepeso e obesidade são altas entre os adultos nas Américas: em 2016, 64% dos homens e 61% das mulheres tinham sobrepeso ou obesidade. Além disso, 39% dos adultos não realizam atividade física suficiente.
Nas Américas, 13% dos adolescentes consomem tabaco, um percentual que varia entre os países, de um mínimo de 3,8% no Canadá a 25% no Chile e na Dominica.
A hipertensão arterial afeta 21% dos homens e 15% das mulheres na região (últimos dados disponíveis de 2015), enquanto o diabetes mellitus afeta 9% dos homens e 8% das mulheres.

Vacinação

A cobertura de vacinação em 2017 varia para diferentes vacinas: 94% da população alvo de crianças nas Américas receberam a vacina contra tuberculose (BCG); 90% receberam a vacina para a primeira dose de sarampo, caxumba e rubéola (MMR1); 88% receberam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3); 85% receberam três doses de vacina contra poliomielite; e 73% receberam a última dose da vacina contra o rotavírus.

Sistemas de saúde

Nas Américas, existem 18 médicos; 59,7 enfermeiros e 6,7 dentistas por 10 mil habitantes. O gasto público em saúde como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) é de 5%, em média, na região (abaixo dos 6% recomendados pela Estratégia da OPAS para o Acesso e Cobertura Universal de Saúde).
A porcentagem na América do Norte (8%) é o dobro da registrada na América Latina e Caribe (4%). O desembolso direto como porcentagem do gasto total com saúde foi de 22% a partir de 2015. A estratégia da OPAS em matéria de saúde universal recomenda a eliminação total dos pagamentos que as pessoas fazem de seu próprio bolso, porque constituem uma barreira significativa de acesso aos serviços de saúde.
Enquanto na América do Norte o desembolso direto como percentual do gasto total com saúde foi de 11% em 2015, na América Latina e Caribe esse percentual chegou a 28,6%. No Brasil, esse indicador ficou em 20%.
A doação de sangue de doadores voluntários, a maneira mais segura de coletar sangue, variou de 100% na América do Norte a uma média de 40% no restante da região (dados de 2015).

Tópicos especiais: poluição do ar e homicídios

A publicação deste ano também inclui três características especiais: oferece informação sobre a carga de doenças atribuíveis à poluição do ar, recomendações sobre as limitações da análise epidemiológica ao lidar com números pequenos e um mapa mostrando a distribuição de homicídios nos países da região.
A OPAS trabalha com os países das Américas para melhorar a saúde e a qualidade de vida da população. Fundada em 1902, é a organização internacional de saúde pública mais antiga do mundo. Atua como escritório regional da OMS para as Américas e é a agência especializada em saúde do sistema interamericano.