Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Uma lição de realismo

Fevereiro
24

Uma lição de realismo

Em 1815, Napoleão Bonaparte fugiu de sua prisão na ilha de Elba e fez a viagem de reconquista do trono da França.
Marchava passo a passo, acompanhado por uma tropa crescente, enquanto o jornal Le Moniteur Universel, que havia sido seu órgão oficial, assegurava que os franceses estavam loucos de vontade de morrer defendendo o rei Luís XVIII, e chamava Napoleão de violador à mão armada do solo da pátria, estrangeiro fora da lei, usurpador, traidor, praga, chefe de bandoleiros, inimigo da França que ousa sujar o solo do qual foi expulso, e anunciava: Este será seu último ato de loucura.
No final o rei fugiu, ninguém morreu por ele, e Napoleão sentou-se no trono sem disparar um único tiro.
Então o mesmo jornal passou a informar que a feliz notícia da entrada de Napoleão na capital provocou uma explosão súbita e unânime, todo mundo se abraça, os vivas ao Imperador enchem o ar, em todo os olhos há lágrimas de alegria, todos celebram o regresso do herói da França e prometem à Sua Majestade o Imperador a mais profunda submissão.

Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores. 2ª ed., folha 72.