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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O homem de cultura na política; nesta quinta (28/2) homenagens na CLDF e no Psol DF

Quinta, 28 de fevereiro de 2019
Enrique Morales


Texto de
Zé Wellington, amigo pessoal de Enrique Morales desde quando o ex-presidente do Psol DF chegou para Brasília


O homem de cultura na política

Homenagem do PSOL DF a fundador e primeiro presidente Enrique Morales 

Placa na sede do partido em Brasília e discurso do deputado Fábio Félix na CLDF dia 28 de fevereiro, no quarto aniversário de morte 

Enrique Morales é fundador do PSOL e o primeiro presidente do partido no DF, reconduzido para um segundo período. 

Contra tudo e todas, foi o primeiro partido do atual período da República a ter de coletar centenas de milhares de assinaturas. Conseguiu cerca de 850 mil, para as  550 mil que precisava. Só do estado do Pará vieram 300 mil.

Membro de corrente fundadora do PSOL, por expulsão do PT depois de relatório no Comitê de Ética do PT que condenava congressistas que votaram contra a Reforma da Previdência (não a atual, a de 2003 do Lula), Enrique veio à Brasília para comandar o gabinete da jovem, mas já experimente deputada federal Luciana Genro. Morales atuava na política como os típicos zagueiros do futebol sulista e de nossos vizinhos, uruguaios e argentinos, com firmeza e dureza. Não podia passar nada, nem uma bola. Havia de ser primoroso para ser possível um novo partido de fato, não um arremedo ou uma comédia de uma tragédia.

Enrique Morales

E assim foi até Luciana Genro perder o mandato. Desde então passou a viver na caríssima Brasília com os recursos parcos cotizados pela aguerrida militância do DF e do Rio Grande do Sul.

Enrique Morales era o homem das mil táticas, para uma única estratégia muito precisa: o socialismo.

Ele era o político nos moldes do século XVIII: o homem da cultura, das letras. A grande referência era Ulysses, de James Joyce. Livro dificílimo de ler, mas que ampliava a cognição e a inteligência humana, mesmo que não passe de uma blague, uma piada, em que se pode começar de qualquer página. O pesado que é superleve... A dialética era o norte de Enrique Morales.

Apaixonado por futebol, submetia-se ao capricho do Kenzo de ter que torcer pelo Remo, em troca de poder ver o Nacional dele, por quem era apaixonado. Não se podia jamais marcar reunião na hora do jogo. Se houvesse, nem ligava. O jogo era mais importante do que a política - a cultura e a base popular é mais profunda do que a política.

Enrique teve uma isquemia em 2009. Foi a ex-deputada Maninha quem lhe ajudou. Dizia que tudo ficara mais preciso a partir desse male. Não tinha mais  dúvidas, na cabeça o pensamento era mais ágil, juvenil. Não precisava mais ler tantas coisas, já sabia. Ao mesmo tempo a doença deixou-lhe com uma dificuldade inicial de escrita. Portanto treinava cotidianamente os traços para se recuperar.

A nota da única corrente em que militou em toda a vida (apesar de ter demorado muito a se profissionalizar politicamente), o MES, deixa transparente: era um principista. Era essa moral que permitia ganhar confiança e poder liderar. Ainda mais em uma época em que a informação circula tão rapidamente. Portanto, as manobras que Lenin fazia, podiam não caber mais. Sendo que o mesmo Lenin deve ser entendido na época dele, em que o mesmo regime político variava tremendamente de atitude (algo típico do capitalismo periférico que se desenvolveu na Rússia). Na época, o Czar ia de um absolutismo atroz, com perseguições, assasinatos, fechamento do parlamento a outros períodos em que o Czar autorizava eleições abertas para as forças políticas. Assim os giros radicais de Lenin têm explicação histórica.

Enrique Morales não tinha estudos de grau superior. Era autodidata. Defendia o modelo de centralismo democrático no partido leninista.

Homem de letras e cultura seduzia pelo conhecimento profundo da alma humana.

A construção do socialismo tem como pilar a memória de quem lutou por essa outra sociedade

Zé Wellington
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