Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Dulce Santa e o depoimento de um ateu

Quarta, 16 de outubro de 2019
Dulce não é santa porque fez milagres. Os milagres é que menos importam. Dulce é santa porque construiu uma obra social imensa, importantíssima no combate às desigualdades sociais.

Por Renan Araújo*


Dulce transformou um galinheiro no maior hospital da Bahia, com mais de mil leitos. Dulce fez escolas, fez orfanato, fez abrigo para idosos. Dulce fez!

Trabalhou incansavelmente para dar sustentabilidade a uma obra de custo altíssimo e de necessidade vital para os mais pobres. Pediu doações, pediu esmolas, pediu dinheiro aos poderosos, para construir uma obra dedicada aos pobres.

O Santo Antônio, sua maior obra, evoluiu com o tempo e é hoje um patrimônio do povo. Mil leitos, 100% SUS. O hospital que antes atendia indigentes hoje atende cidadãos. É um hospital moderno, com tecnologia e alta complexidade agregada, em diversas especialidades. Forma médicos e outros profissionais de saúde, forma cidadãos, resgata vidas.

Lá também moram inúmeros baianos sem capacidade alguma nenhuma de tocar suas vidas com autonomia, abandonados pelas famílias e pelo estado.

As Obras de Irmã Dulce são o último reduto daqueles para quem todas as portas foram fechadas e todas as oportunidades negadas.

Tenho orgulho de ter conhecido Dulce dos Pobres, quando estudante de medicina, vendo-a percorrer os corredores do hospital no desafio diário de garantir acolhimento a uma imensa população de necessitados.

A saúde frágil não foi empecilho para uma luta diária e de décadas para salvar vidas.

As obras de Irmã Dulce continuam através de sua sobrinha Maria Rita, uma mulher forte, competente, consciente do seu papel de dar continuidade ao trabalho da tia querida que hoje vira Santa.

O trabalho das Obras Sociais de Irmã Dulce (OSID) nunca ultrapassou os limites da Bahia. Mesmo assim, inspiram bondade, compaixão, solidariedade, acolhimento, por todo o mundo.

Falei para Maria Rita recentemente do meu orgulho de ver o reconhecimento de Irmã Dulce como Santa. Orgulho de ter minha vida entrelaçada com essa obra em muitos dos seus momentos Dulce é santa pelo que teve de humana. E eu, ateu, oro para que o mundo seja tocado pela fé inquebrantável de Santa Dulce dos Pobres.

Amém!


*Renan Araújo é médico e integrante do movimento Médicos e Médicas pela Democracia.