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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

The Lancet | Crise econômica no Brasil mata mais populações pobres

Quarta, 16 de outubro de 2019
Em municípios onde o investimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Bolsa Família é maior, as mortes causadas pela recessão foram evitadas.

Do Saúde Popular


A contração da economia em cerca de 8%, entre 2014 e 2017, elevou o desemprego, a pobreza e, por consequência, o aumento da taxa de mortalidade
Foto: Vanessa Nicolav/Brasil de Fato

Pesquisadores do Brasil e Reino Unidos indicam que investimentos no SUS e Bolsa Família não podem sofrer cortes.

  
Por Redação*
A recessão econômica pode piorar a saúde em países de baixa e média renda, com mercados de trabalho precários e sistemas de proteção social fracos. Essa foi a observação de pesquisadores do Brasil e Reino Unido feita em artigo publicado na revista The Lancet Global Health, em 10 de outubro.
De acordo com o estudo, a recessão econômica no Brasil levou a um aumento da mortalidade em populações vulneráveis, no período de 2012 a 2017. Em municípios onde o investimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Bolsa Família é maior, as mortes causadas pela recessão foram evitadas.

Conforme o estudo, realizado como parte de um programa conjunto Brasil-Reino Unido de pesquisa sobre o sistema de saúde brasileiro, a crise econômica no Brasil é responsável pelo aumento de 4,3% nas taxas de mortalidade adulta, num período de 5 anos analisado.
A contração da economia em cerca de 8%, entre 2014 e 2017, elevou o desemprego, a pobreza e, por consequência, o aumento da taxa de mortalidade, concentrada em negros e pardos, homens, e pessoas em idade ativa.
Ao observar a taxa de mortalidade em 5.565 municípios brasileiros entre 2012 e 2017, os pesquisadores atribuíram 3 mil mortes adicionais situação recessiva do país. O reflexo foi mais suave em municípios onde há maior investimento em políticas públicas de saúde e transferência de renda, como o Bolsa Família.
“É essencial que o Brasil proteja os investimentos no SUS e no Bolsa Família, pois esses programas reconhecidos internacionalmente fornecem proteção vital para a saúde e o bem-estar do país”, recomenda o autor principal do estudo, Dr. Hone, do Imperial College London.
Rudi Rocha, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) e coordenador de pesquisas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), reforça que investimentos governamentais no SUS e em programas de proteção social “são vitais, especialmente durante períodos de dificuldades econômicas”.
Segundo os pesquisadores, o impacto da recessão econômica na Europa foi minimizado em países com fortes programas de saúde e proteção social, incluindo acesso a seguro-desemprego e apoio à reciclagem de habilidades para as pessoas que perdem seus empregos.
No Brasil, por outro lado, há um aumento de pessoas inseridas no mercado de trabalho informal ou precarizado, sem acesso a seguro. Daí a importância, conforme indica o estudo, que o financiamento do SUS e programas de proteção social como o Bolsa Família não sofram cortes.
O estudo é assinado pelos pesquisadores Thomas Hone e Christopher Millett, vinculados à Escola de Saúde Pública do Imperial College London, Mauricio Barreto (Cidacs/Fiocruz), Davide Rasella (UFBA), Rômulo Pases-Sousa (Instituto René Rachou Fiocruz Minas em Belo Horizonte), e Rudi Rocha (FGV EAESP e IEPS).
* Com informações da The Lancet Global Health e APS Redes