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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A deficiente política de transporte coletivo no Distrito Federal

Terça, 27 de outubro de 2020

Por

Salin Siddartha

Uma das missões do Governo do Distrito Federal sob uma administração verdadeiramente preocupada com o empoderamento democrático das comunidades locais deve ser a de promover a eficiência do setor de transportes, visando a impactos positivos em questões como segurança, meio ambiente, energia, movimentação e crescimento econômico. O meio urbano, a cada dia, apresenta-se mais ambientalmente insustentável: o aquecimento global fica evidente, e o modo de deslocamento é um potencializador desse agravante.

A promoção da eficiência do setor de transportes clama que os meios de deslocamentos urbanos minimizem a quantidade de viagens dos veículos para locais geradores de tráfego, por intermédio da utilização de ferramentas organizacionais, de informação e de sensibilização. As interfaces multimodais devem compor a estrutura de um transporte público eficiente no DF, centrando-se nas questões de localização, projeto, implementação, financiamento e gestão da integração dos passageiros com o transporte coletivo.

O Distrito Federal foi planejado para a circulação de veículos, mas, pela deficiência do transporte coletivo, pela falta de uma política de transportes consequente, priorizou-se o automóvel. O carro propicia “status”, prazer e economiza tempo – estabelece-se, inclusive, uma certa relação carinhosa entre o proprietário e seu veículo, porém o automotor é responsável por uma enorme agressão ao meio ambiente e reforça o sedentarismo, fator que reflete negativamente na saúde do ser humano, sem falar nas muitas colisões, atropelamentos e suas repercussões. É preciso raciocinar sobre o uso indiscriminado desse meio de transporte. Para viagens casa/trabalho e para pequenos deslocamentos, ele deve ser evitado. Além dos meios alternativos, como a bicicleta, deve-se utilizar o transporte coletivo, pelo número de pessoas que carrega e por ser menos poluente.

Por isso, torna-se necessário, além do fortalecimento de uma política de transportes coletivos públicos, o estímulo a uma mudança de hábitos da população e um incentivo ao transporte solidário. Urge uma política de transporte e circulação que proporcione acesso amplo e democrático ao espaço urbano, por meio da priorização dos modos não motorizados e coletivos de transporte sobre os demais, que não gere segregações espaciais e seja socialmente inclusiva. É preciso convencer a população de que há outras maneiras de se sentir engrandecido além de ter seu carro próprio. Fazê-la compreender que o uso desordenado do automóvel nos deslocamentos individuais já não pode garantir a mobilidade da maioria dos cidadãos.

Deve-se ampliar e renovar a frota de ônibus e VLs para que se possa aumentar a mobilidade das parcelas mais carentes da população. Os ônibus devem pagar menos impostos que os automóveis, e mecanismos devem ser desenvolvidos para que a decorrente redução de custos seja, de fato, apropriada pelos consumidores. O transporte coletivo é um investimento prioritário: por conseguinte, o lucro da iniciativa privada não pode estar acima dos interesses coletivos, não é possível manter essa lógica, e o transporte coletivo não pode ser objeto de ganho financeiro excessivo.

Cruzeiro-DF, 26 de outubro de 2020

SALIN SIDDARTHA