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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Na Petrobrás, as diretorias mudam mas a crença de que somos idiotas fica

Quarta, 14 de outubro de 2020

Por

Cláudio da Costa Oliveira*

Em setembro de 2017 escrevi artigo com o título “Para a atual diretoria da Petrobrás somos todos idiotas”

https://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/776-para-a-atual-diretoria-da-petrobras-somos-todos-idiotas 

Fiz isto em resposta a uma carta enviada na época aos funcionários repleta de afirmativas de autopromoção. Mentiras com as quais tentavam convencer os menos preparados. Chamavam estas cartas (foram diversas), que não permitiam perguntas e muito menos comentários, de “diálogo”.

Pois bem, hoje, avisado por um amigo, deparei no site da empresa com uma tentativa de explicar o inexplicável com o título   “Conheça nossos novos caminhos”

https://novoscaminhos.petrobras.com.br/  

Iniciam o documento esclarecendo “estamos concentrando esforços no que vai trazer os resultados que queremos”

Sem dúvida, inclusive o atual presidente Castello Branco sempre foi muito claro daquilo que queria. Logo que tomou posse afirmou “Meu sonho é vender a Petrobrás”. De lá para cá não fez outra coisa senão afirmar que a empresa está focada em “gerar valor para os acionistas” Só não explica bem para quais acionistas ele está se referindo.

Hoje, do capital total da companhia só 36% está nas mãos do governo brasileiro (representante do povo), os outros 64% está nas bolsas de valores (cassinos de aposta) a maioria na posse de estrangeiros.

Bolsas de valores (cassinos) não tem compromisso com o desenvolvimento e o crescimento das empresas. A partir do momento em que o papel está cotado na bolsa o único interesse deles é com o pagamento de dividendos. A empresa pode estar se esvaindo, mas desde que esteja pagando bons dividendos, seu valor na bolsa continuará alto.

O pior é que as bolsas são controladas por grandes fundos de investimentos (BlackRock, Vanguard, J.P.Morgan etc), que formam a Banca financeira internacional. Como sabemos, nos cassinos a “banca” sempre ganha.

Toda empresa tem seu produto principal. O mais rentável. Mas não é por isto que  abandona outras linhas menos rentáveis, mas mesmo assim rentáveis. O que importa é o conjunto.

Vender ativos altamente rentáveis e estratégicos como NTS, TAG e BR Distribuidora bem como as refinarias não tem justificativa. Alegar necessidade de redução de endividamento é uma tese sem suporte, pois o retorno médio que estes ativos geram para a empresa é superior ao custo dos empréstimos.

Estamos assistindo a sangria da companhia para beneficiar o mercado de capitais. Isto já estava claro no Plano de Negócios e Gestão - PNG 2020/2024 e vai ficar mais claro ainda quando da apresentação do PNG 2021/2025 previsto para o final de novembro em Nova Iorque.

No novo PNG uma das principais premissas, o preço do Brent, será reduzido de  US$ 45-50 do plano anterior (2020/2024) para algo em torno de US$ 35. Com isto, a principal fonte de recursos do plano, a geração operacional de caixa, será reduzida. Para compensar a empresa pretende aumentar a venda de ativos e reduzir os investimentos, com o objetivo óbvio de manter ou aumentar o pagamento de dividendos.

Para saber disto não é necessário ser mãe Dináh nem ler bola de cristal, basta acompanhar as declarações da própria empresa.

O documento (no site da Petrobrás) destaca “Transparência é muito importante para nós”. Se for verdade fica a nossa sugestão para que abram um campo para que possamos colocar comentários e fazer perguntas.

Se não conhecêssemos os objetivos da atual administração da companhia poderíamos lembrar-nos da máxima antiga “Nunca coloquem todos os ovos na mesma cesta”  


*Cláudio da Costa Oliveira, Economista da Petrobrás aposentado.

Outubro de 2020  

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*Fonte: AEPET 

Associação do Engenheiros da Petrobrás