Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 17 de outubro de 2020

Leia a edição de outubro de 2020 do jornal O Canhoto, um jornal on-line do Gama (DF).

 Sábado, 17 de outubro de 2020

O Canhoto de outubro de 2020  


EDITORIAL

“Um sistema que não garante a humanidade do homem merece perecer”. Frantz Fanon

Este número d’O Canhoto vivenciou um dos mais enormes desafios do nosso tempo: dialogar com a nossa realidade periférica e seus problemas tendo como eco o legado da revolução de outubro, a revolução de 1917, a mais incrível experiência revolucionária vivida no século XX. O que fazer diante dum tema desses enquanto intelectuais de todos os lados e matizes se debatem entre falsos dilemas que escondem o verdadeiro significado de Outubro de 17? Não foi fácil, não é fácil, mas havemos de vencer.

E venceremos porque sempre servirá aos povos do mundo todo o exemplo que ousou derrubar donos e patrões. E sempre nos servirão os exemplos das milhares de mulheres que foram o núcleo, a essência rebelde que levou o povo às ruas para exigir o fim da exploração. E sempre lembraremos dos revolucionários russos quando pensarmos nalguns dos direitos mais básicos sobre jornada de trabalho e tantos outros direitos, mas principalmente sobre os sentidos desse mesmo trabalho que carregamos nas costas, de bicicleta, cumprindo metas para enricar os reizinhos de hoje, que continuam a lucrar com os dilemas que nos impõem não apenas as redes, mas toda essa lógica vampira que a pandemia cuspiu na nossa cara.

A revolução ensinou lições indispensáveis que reverberam dentro de cada trabalhador e trabalhadora, a lição de que patrão e rico, enquanto classe, é gente que não presta, e que não dá pra negociar com seres humanos que comem sem trabalhar. A revolução, com quaisquer defeitos que cegos de direita e esquerda queiram impor a ela, nos deu lição de que essa classe que é pouca e que manda na gente tem que parar de existir a todo custo. Chegou a hora de voltar a declarar guerra aberta ao rico e a tudo que circula ele e sua casa bem vigiada.

Foi assim que, nos momentos mais livres e radicalmente inspiradores, a África, tantos Vietnãs e a sangrenta América Latina mais perto chegaram do seu apogeu espiritual e político, quando decidiram atacar a elite, afrontá-la, ousando construir novos modelos de existência que ainda hoje vibram, como vibram as bolas de neve de uma revolução que faz 103 anos.

Nunca deixaremos passar em branco a vitória do povo russo contra o atraso promovido pelos poderosos, uma riquíssima potência que era abafada e roubada, como ainda se dá na África de hoje, uma África que teve sua união derrotada também por meio da derrota que se forjou em cima dos “erros” soviéticos, “erros” inflacionados pelo final dos anos 80, período cirurgicamente costurado para nos fazer crer que os sonhos todos haviam acabado.

Esta edição ousou voltar a falar daquilo que não silenciará jamais. No Gama, esse curral bolsonarista empurrado na esquina de Brasília com o Goiás latifundiário, nessa cidade existem milhares de mulheres querendo seu direito ao aborto, mulheres que acreditam que, só quando o debate sobre o patriarcado rolar nas escolas, elas poderão viver seu lazer, prazer e trabalho em paz. Aqui e em tantas outras perifas do DF, não são poucos os homens e mulheres negras a lutar por uma reflexão política à esquerda que dê conta de suas demandas, de sua afroascendência. Aqui, um milhão de trabalhadores viu a greve dos motoboys e entregadores de aplicativos, dando a letra e mostrando o que é esse mundinho delivery inventado por quem está na poltrona em dia de domingo. Quem correu pro SUS, agora sabe, sem sombra de dúvidas, das dores de não ter apoio do Estado pruma saúde que não pode ser mercadoria. Tudo isso, toda essa realidade, viva, latejando na cabeça da gente antes de dormir ainda nos fará assumir a nossa missão, aquela que só cabe a nós. Por tudo isso, a revolução russa de outubro de 1917 é viva e ainda vivenciada. Em breve entraremos em guerra civil no Brasil, pelo “andar da carruagem” os cálculos apontam poucos anos para essa dura realidade. É bom começarmos a nos organizar, essa é a única “opção” que nos restou, a “opção” que nos coloca diante do nosso destino, o critério da nossa mais íntima verdade.


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