Sexta, 15 de junho de 2012
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Pesquisador sul-africano que escreveu livro sobre a Copa na África diz que seu verdadeiro legado foram dívidas e desemprego
O sul africano Eddie Cottle, autor do livro “Copa do Mundo da África
do Sul: um legado para quem?”, acompanhou o megaevento de 2010 com olhos
atentos. Ele coordenou a campanha por trabalho decente entre os
sindicatos da construção no país. E após pesquisar o antes, durante e
pós Copa, garante que as perspectivas de crescimento do país, aumento do
número de empregos e no número de turistas nunca se concretizou por lá.
Ele acredita para o Brasil a coisa pode ser ainda pior,
principalmente por causa do grande número de despejos que já aconteceram
por aqui. “Olhando para o que está acontecendo no Brasil, o que se pode
esperar é um aumento pequeno dos níveis de emprego a curto prazo,
salários baixos, e a maioria dos fundos públicos sendo desviados para os
lucros das grandes empresas”.
Quais eram as promessas para o evento na África do Sul? E quem mais encorajou esta “ilusão”? A mídia? O governo? A própria Fifa?
Uma das maneiras mais perniciosas de se criar a aceitação geral da
Copa do Mundo é através da divulgação de números exagerados de geração
de empregos. Nesse sentido, o evento de 2010 parecia muito interessante.
O número de postos de trabalho foi estimado em 695.000 para os períodos
pré e durante a Copa do Mundo. E o que aconteceu na realidade? No
segundo trimestre de 2010, as taxas de empregabilidade diminuíram em
4,7%, ou seja, perdemos 627.000 postos de trabalho. No setor da
construção civil, onde se tinha a sensação de que os ‘bons tempos’
seriam sentidos por todos, o emprego diminuiu 7,1% (ou 54.000 postos de
trabalho) neste período. Na verdade, o ano de 2010 testemunhou com menos
111.000 postos de emprego na construção. Olhando para o que está
acontecendo no Brasil, o que se pode esperar é um aumento pequeno dos
níveis de emprego a curto prazo, salários baixos, e a maioria dos fundos
públicos sendo desviados para os lucros das grandes empresas. Quando o
termo “legado” é usado pelas comissões de licitação, pela Fifa, pelos
Comitês Organizadores Locais, funcionários do governo e as principais
consultorias econômicas, ele é assumido como inteiramente positivo, com o
argumento de que os benefícios do crescimento econômico e do
desenvolvimento urbano irão para as comunidades como uma coisa natural.
Essas são mentiras absurdas. Nunca são feitos estudos sérios acerca dos
investimentos feitos pelo governo e a que custo eles acontecem; sobre o
impacto da Copa sobre o meio ambiente ou os custos sociais de sediar a
Copa. O relatório econômico oficial é mantido sob sigilo e longe da
discussão pública, simplesmente porque são falhos.
Qual foi o acordo de anfitrião feito entre a Fifa e a África do Sul? Foram criadas leis específicas como no Brasil?