Segunda, 3 de dezembro de 2012
Do Diário do Centro do Mundo
Com a palavra enfim Bradley Manning, o recruta acusado de vazar documentos para o Wikileaks
O artigo abaixo foi publicado, originalmente, no jornal Guardian,
e republicado a pedido pelo Diário. A tradução é de Camila Nogueira.
Durante os últimos dois anos e meio, passados por ele em uma prisão
militar, muito foi dito sobre Bradley Manning, mas nada foi ouvido dele.
Isso mudou na semana passada quando o jovem recruta de vinte e três
anos, acusado de vazar documentos secretos para o WikiLeaks, testemunhou
em seu julgamento sobre as condições de sua detenção.
As medidas opressivas e torturantes às quais foi submetido, incluindo
confinamento solitário prolongado e nudez forçada, são de conhecimento
há algum tempo. Uma investigação formal da ONU denunciou tais condições
como “cruéis e desumanas”. O coronel aposentado da força aérea PJ
Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, demitiu-se após as
críticas ao tratamento dispensado a Manning. Um psicólogo que atende
aos presos testemunhou, nestes dias, que as condições às quais Manning
foi submetido eram mais agressivas do que as encontradas no corredor da
morte ou na Baía de Guantânamo.
Ainda assim, ouvir o suposto delator descrever os abusos em suas
próprias palavras transmitiu um horror ainda mais intenso. O repórter do
Guardian Ed Pilkington, que esteve no julgamento, citou
Manning: “Se eu precisasse de papel higiênico, eu deveria gritar
‘Detento Manning requer papel higiênico!” e “Eu estava autorizado a
passar vinte minutos ao sol, acorrentado, a cada vinte e quatro horas.”
Referindo-se ao início de sua detenção, Manning se recorda, “Eu havia
desistido. Estava certo de que estava prestes a morrer naquela cela
animalesca, de 2 por 3”.
O tratamento de Bradley Manning é uma das desgraças do primeiro
mandato de Obama, e expressa muitas das dinâmicas que formam sua
presidência. O presidente não apenas defendeu o tratamento de Manning
mas também, como comandante supremo dos juízes da Corte Marcial,
impropriamente decretou a culpa de Manning quando afirmou em uma
entrevista que “ele infrigiu a lei”. Leia a íntegra no Diário do Centro do Mundo