Domingo,
3 de janeiro de 2015
Do
MSIa
Movimento
de Solidariedade Iberoamericana
Sob rigoroso sigilo de justiça e escassa atenção da mídia,
corre no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um processo que
envolve um dos maiores, se não o maior escândalo já registrado no mercado
financeiro brasileiro. O caso se refere a um conluio de operadores financeiros
de 15 bancos internacionais para manipular as taxas de câmbio do real, do dólar
estadunidense e outras moedas, entre 2007 e 2013. O processo envolve 30 pessoas
e é uma ramificação de um escândalo maior investigado – e punido – por
autoridades regulatórias europeias, estadunidenses e japonesas, a partir de
2012, como registrado em várias oportunidades nesta Resenha (edições de
11/07/2012, 26/11/2014, 4/03/2015 e 27/05/2015).
O processo foi anunciado pelo Cade no início de julho
último, e envolve operadores dos seguintes bancos: Banco Standard de
Investimentos, Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, Barclays, Citigroup, Crédit Suisse,
Deutsche Bank, HSBC, JP Morgan Chase, Merril Lynch, Morgan Stanley, Nomura,
Royal Bank of Canada, Royal Bank of Scotland, Standard Chartered e UBS (G1, 2/07/2015).
Ou seja, estamos falando da nata da nata da alta finança
global.
Curiosamente, o que deveria ser objeto de uma investigação
aberta, com presença destacada diária no noticiário da mídia brasileira, está
sendo tratado com um sigilo que somente se entende pelo peso do sistema
financeiro no País, capaz de intimidar tanto autoridades como manter reduzido o
interesse da grande mídia, inclusive (e, talvez, principalmente, a
especializada em economia e finanças). Comportamento que é bastante sugestivo
sobre a localização do verdadeiro hipocentro da corrupção nacional.
Um raro comentário do caso foi feito pelo jornalista José
Casado, do jornal O Globo, que fez uma excelente síntese do caso em sua coluna de 10 de novembro.
Casado afirma que os operadores envolvidos faziam acordos
para influenciar as cotações das moedas, trocando informações e conluios no
sistema de chat da agência Bloomberg. A desfaçatez dos criminosos – porque é
disto que se trata, nada mais, nada menos – era tanta que, segundo ele, o
conluio era feito por intermédio do sistema de chat da agência Bloomberg, com
os operadores se dividindo em dois grupos, um deles autodenominado “A Máfia” e
o outro identificando-se como “O Cartel”.
De acordo com o Cade, segundo Casado, a lista de
transgressões cometidas pelos “Mafiosos” e “Cartelistas” incluía:
– acordos para fixara diferença entre o valor de compra e
venda de moedas (spread), potencializando lucros dos bancos e os
prejuízos dos clientes;
– combinação de cotações falsas e negociação de moedas a
preços específicos, cartelizados;
– bloqueio de outros operadores no mercado de câmbio
brasileiro, concorrentes ou que se recusavam a aderir ao esquema;
– compartilhamento de informações sobre os negócios de clientes, incluindo contratos, fluxos de recursos, ordens de negociação, preços, posições confidenciais, estratégias e objetivos;
– compartilhamento de informações sobre os negócios de clientes, incluindo contratos, fluxos de recursos, ordens de negociação, preços, posições confidenciais, estratégias e objetivos;
– coordenação de operações prévias às colheitas de safras
agrícolas, para influenciar os índices de referência num “movimento de
mercado”, alterando as cotações dos produtos.
Não é preciso ser especialista financeiro para se perceber
que o potencial dos prejuízos causados aos clientes e ao País por semelhante
esquema é rigorosamente estratosférico, talvez, na mesma ordem de grandeza dos
levantados pelas investigações das operações Lava Jato e Zelotes. O difícil de
se aceitar é a virtual cortina de silêncio em torno do caso.