Sexta, 11 de novembro de 2011
Da IstoÉ, edição 2192, desta sexta (11/11).Uma ONG da saúde no esquema de Agnelo
Ex-colega do governador do DF, dona de entidade condenada pelo TCU, o acusa de jogá-la para dentro das fraudes do programa Segundo Tempo no Esporte
Claudio Dantas Sequeira
Pela primeira vez desde que foi revelado o
esquema montado pelo atual governador do DF, Agnelo Queiroz, no
Ministério do Esporte, surge uma testemunha que não tem envolvimento
político no caso. Hematologista com mais de 30 anos de serviço público, a
médica Jussara Oliveira Santa Cruz de Almeida não é ligada a nenhum
partido político, é bem-sucedida e reconhecida internacionalmente por
seu trabalho com hemofílicos. Há dois anos, recebeu um certificado da
Federação Internacional de Hemofílicos atestando proficiência na área.
Este ano, porém, na condição de dirigente da Associação dos Voluntários,
Pesquisadores e Portadores de Coagulopatias (Ajude-C), Jussara se viu
arrolada pelo TCU, teve suas contas reprovadas e foi condenada a
devolver à União mais de R$ 300 mil. Na semana passada, em entrevista à
ISTOÉ, a hematologista abriu o jogo e explicou como tudo aconteceu.
Disse que foi usada pelo esquema de Agnelo de desvio de recursos do
Esporte por meio de ONGs e acabou virando sua cúmplice. “Tínhamos que
cumprir uma série de requisitos, fazer licitações, prestar contas de
pagamentos a fornecedores. Eles, então, me apresentaram ao João Dias,
dizendo que ele poderia me ajudar”, afirma a médica.
Ela e Agnelo, que também é médico, se conheceram nos tempos de residência no Hospital de Base, de Brasília. A amizade foi o que levou a médica a procurar o então ministro em busca de apoio para projetos envolvendo a prática esportiva no tratamento da hemofilia por meio da Ajude-C. A parceria começou em 2004, quando o Ministério apoiou a realização da I Olimpíada Latino-americana de Portadores de Coagolupatia. O programa deu certo. Quando lançou o Segundo Tempo, Jussara não teve dúvidas e recorreu novamente ao amigo ministro. A partir daí, começaram os problemas. Foi através de Agnelo que Jussara caiu na teia do esquema pilotado por João Dias. “O Agnelo pediu que eu procurasse o Rafael Barbosa (então secretário Nacional de Esporte Educacional e, até hoje, braço direito de Agnelo no governo do DF), que, por sua vez, me conduziu aos outros personagens do esquema.”
Ela e Agnelo, que também é médico, se conheceram nos tempos de residência no Hospital de Base, de Brasília. A amizade foi o que levou a médica a procurar o então ministro em busca de apoio para projetos envolvendo a prática esportiva no tratamento da hemofilia por meio da Ajude-C. A parceria começou em 2004, quando o Ministério apoiou a realização da I Olimpíada Latino-americana de Portadores de Coagolupatia. O programa deu certo. Quando lançou o Segundo Tempo, Jussara não teve dúvidas e recorreu novamente ao amigo ministro. A partir daí, começaram os problemas. Foi através de Agnelo que Jussara caiu na teia do esquema pilotado por João Dias. “O Agnelo pediu que eu procurasse o Rafael Barbosa (então secretário Nacional de Esporte Educacional e, até hoje, braço direito de Agnelo no governo do DF), que, por sua vez, me conduziu aos outros personagens do esquema.”
VELHOS CONHECIDOS
Jussara e Agnelo se conhecem desde os tempos de residência no Hospital de Base, de Brasília
A médica foi apresentada ao policial militar João Dias, durante um
congresso de capacitação de gestores, por meio de outra funcionária do
ministério, chamada Racilene Santiago, a Lene, esta indicada a Jussara
por Rafael Barbosa. Logo depois, o policial militar a levou ao
comerciante Miguel Santos Souza, responsável por criar empresas laranjas
e recrutar ONGs fantasmas, conforme revelou ISTOÉ em sua última edição.
Jussara Almeida conta que Miguel ficou responsável por toda a parte
legal, organizando pregões de fachada e emitindo notas frias. “Ele
chegou a levar o pregoeiro à sede do Hospital de Apoio. Eu falei que não
tinha como pagar por aquilo tudo, mas ele disse para não me preocupar”,
diz. As empresas que participaram da concorrência funcionavam no mesmo
endereço, na 711 Norte. Quem venceu a licitação fraudulenta da Ajude-C
foi a JG Comércio, a mesma que conseguiu contratos em cinco ministérios,
no STF e nas Forças Armadas. “Quando o ministério liberava a verba, eu
sacava para pagar o Miguel. Sempre paguei em cash. Quando ele não
estava, eu entregava ao Júnior”, como era conhecido Geraldo Nascimento
de Andrade, o motorista de Miguel.
A TESTEMUNHA
Jussara diz que os problemas começaram quando Agnelo pediu para que
ela procurasse Rafael Barbosa, então secretário de Esporte Educacional
O esquema para prestação de contas era todo forjado, desde as notas
fiscais até os contratos com entidades parceiras. Segundo Jussara, que
conseguiu dois convênios num total de R$ 280 mil, João Dias arrumava
tudo. Quando havia alguma pendência que o policial não conseguia
resolver, a médica ligava diretamente para o ministro que, por sua vez,
indicava Rafael. “Quando começou a dar problema na prestação de contas,
eu os procurei novamente. O Rafael disse que não me preocupasse, pois
tudo seria resolvido. Só que isso não aconteceu”, diz. O TCU acabou
reprovando as contas da ONG de Jussara. A médica não fala mais com
Agnelo e lamenta que o programa Segundo Tempo tenha sido desvirtuado.
Irritada com o fato de ter seu nome envolvido num esquema de fraudes,
Jussara está disposta a confrontar o governador para confirmar suas
declarações. A situação de Agnelo Queiroz é delicada. Ele é alvo de
processo no STJ, de cinco pedidos de impeachment na Câmara Distrital e
uma tentativa de abertura de CPI na Câmara dos Deputados. Agora, o novo
testemunho pode levá-lo de vez ao cadafalso.