Quarta, 30 de maio de 2012
Por Ivan de Carvalho
Não bastava a perspectiva, que vai ganhando características de certeza, de que o julgamento do Mensalão, com seus atuais 36 réus, se verifique ainda neste ano de eleições, ao contrário do que desesperadamente desejam os réus e seus padrinhos políticos. O fato de ser este um ano de eleições não era o elemento principal da torcida e do ingente esforço que vem sendo feito para empurrar o julgamento para o ano que vem.
Afinal, 2013 é bem mais perto de 2014 e as
eleições de 2014, para deputados estaduais e federais, um terço do Senado
Federal, governadores e presidente da República, com seus respectivos vices,
são incomparavelmente mais importantes. Assim, eleitoralmente, o julgamento do
Mensalão este ano talvez seja muito menos inconveniente para o entorno político
dos mensaleiros do que em 2013. Pois que se somente no ano que vem se realizar,
a lembrança do caso estará bem mais viva quando acontecerem as eleições de
2014.
Importante a nação entender que a grande vantagem
de empurrar o julgamento para 2013 é jurídica. Os crimes de penas menos pesadas
prescreverão e os acusados por eles – nos casos em que não tiverem de responder
também a crimes com penas de prisão mais longas – nem serão julgados. As acusações
contra eles cairão na preliminar da prescrição. O que mais se busca, portanto, com
o retardamento do julgamento é a impunidade. Que poderia ser talvez melhor
servida com a aposentadoria compulsória de dois ministros e sua substituição
por dois novos.
Ora, para desviar o foco do julgamento do
Mensalão, o governismo decidiu criar a CPMI do Cachoeira, para investigar um
tema que a Polícia Federal investigara exaustiva, mas não completamente. Claro
que a oposição apoiou a CPI. Mas o governo cuidou de manter absoluto controle
da comissão parlamentar mista de inquérito, no comando e na composição.
Apesar disso, e ainda de resistir à convocação de
três governadores apontados como envolvidos com o personagem principal,
Carlinhos Cachoeira, a CPMI foi obrigada pelos fatos a tomar o freio nos dentes
e quebrar o sigilo da Delta Construções em âmbito nacional. A Delta é a empresa
líder das obras do PAC, programa lançado no segundo mandato de Lula e que
continua no atual governo. É a primeira complicação importante para o
governismo na CPI.
Bem, como parte do ensaio geral a que me referi
nas primeiras linhas, houve o estonteante e estupefaciente encontro de Lula,
Nelson Jobim e do ministro Gilmar Mendes, do STF, seguido das denúncias
gravíssimas feitas por Mendes, entre outros, ao presidente do STF, ao
procurador geral da República e à revista Veja.
Evidentemente contestadas. O leitor quer mais arranca-rabo no ensaio geral?
Pois tem. Segundo Gilmar, Lula estava espalhando boatos sobre uma viagem sua à
Alemanha. Ontem ele exibiu documentos aos jornalistas e deu explicações detalhadas,
sugerindo ainda que os jornalistas buscassem outras no STF.
Ah, no Rio Grande do Sul um procurador da
República, Manuel Pastana, por iniciativa própria, encaminhou representação à
Procuradoria Geral da República, pretendendo que Lula seja responsabilizado
criminalmente pelo Mensalão. Ontem já começava na rede petista na internet uma
guerra contra o procurador Pastana.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.