Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Outro escândalo

Terça, 29 de maio de 2012 
Por Ivan de Carvalho
Pronto. Acaba de explodir outro escândalo na República. Este envolve o ex-presidente Lula, o ex-presidente do STF, ex-ministro da Justiça de FHC e ex-ministro da Defesa de Lula, Nelson Jobim e o ministro do STF Gilmar Mendes. Celso de Mello, o mais antigo ministro do STF, manifestou-se solidário com Gilmar Mendes e atacou energicamente a ação atribuída ao ex-presidente Lula.

            Formou-se uma confusão, uma polêmica sobre o encontro ocorrido no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, muito amigo de Lula e ex-colega de Gilmar Mendes no STF. O encontro reuniu os três. Pela história levantada por jornalistas e publicada, principalmente ontem, Mendes estava querendo visitar Lula, de quem se tornara muito amigo – a amizade se estendia às respectivas esposas – por causa do problema de saúde do ex-presidente da República. Um dia, Sarney comentou com Mendes que estava indo a São Paulo visitar Lula e o ministro do STF sugeriu que o presidente do Senado intermediasse um encontro. Houve o encontro algum tempo depois. Gilmar entrou feliz no escritório de Jobim e saiu injuriado e indignado. A revista Veja desta semana traz matéria sobre o assunto, tendo como sua fonte essencial o ministro Gilmar Mendes. E porque ele se indignara?

Mendes garante que Lula quis pressioná-lo sobre o julgamento do Mensalão, que o PT e o próprio Lula não querem que aconteça este ano. Ano de eleições. Além de que, ficando o julgamento para depois, muitos crimes de penas menores iriam prescrever. Inclusive o de formação de quadrilha, que ameaça José Dirceu, apontado na denúncia da Procuradoria Geral da República como o “chefe de sofisticada organização criminosa”.

Mendes estava certo de que iria encontrar Lula no gabinete de Jobim. Este diz que Mendes passou lá por acaso, pois ambos vêm fazendo um trabalho de resgate da memória da Constituinte de 88 e, por uma dessas coincidências que deixam os céticos com um sorriso amarelo, pois parecem milagres, lá no escritório estava o presidente Lula.

Bem, o Blog do Moreno revelou ontem alguma coisa de grande interesse sobre esse particular. Citando Jobim em declaração dada ao blog no sábado à tarde: “O encontro era de Lula comigo. O Gilmar apareceu por coincidência. ... Foi uma grande coincidência! Três dias antes, a Clara Ant me ligou avisando que o Lula ia me ver. O Gilmar não sabia que iria encontrar o Lula”.
            
            E completa o Blog do Moreno: “Hoje, Jobim está nos jornais e sites dizendo que Lula pediu a ele para chamar Gilmar. Que ele ligou pro Gilmar para chamá-lo para o encontro”. Para então perguntar: “Em qual Jobim devo acreditar? Naquele que me jurou no sábado que a presença de Gilmar no seu escritório foi mera coincidência? Ou no Jobim de hoje? Era só isso que eu tenho a dizer, caro leitor”.

            Bem, já existem mil aspectos nesse perigoso caso, inclusive uma nota oficial de Lula. E uma decisão da oposição de entrar na Procuradoria Geral da República com uma representação contra ele, sob a acusação de corrupção ativa e tráfico de influência no julgamento do caso do Mensalão. Lula não tem mais foro privilegiado e, dependendo do teor da representação, o procurador geral encaminhará o caso às autoridades competentes. São dois dados. Devido ao espaço limitado, encerro com uma declaração do ministro Celso de Mello, do STF: “Tentar interferir dessa maneira em um julgamento do STF é inaceitável e indecoroso. Rompe todos os limites da ética”, disse ele, acrescentando: “Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de Poder tenta interferir em outro”. Celso de Mello disse mais, do que dá conta o Blog do Josias, no UOL.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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