Terça, 29 de maio de 2012
Por Ivan de Carvalho

Formou-se uma confusão, uma
polêmica sobre o encontro ocorrido no escritório do ex-ministro Nelson Jobim,
muito amigo de Lula e ex-colega de Gilmar Mendes no STF. O encontro reuniu os
três. Pela história levantada por jornalistas e publicada, principalmente
ontem, Mendes estava querendo visitar Lula, de quem se tornara muito amigo – a
amizade se estendia às respectivas esposas – por causa do problema de saúde do
ex-presidente da República. Um dia, Sarney comentou com Mendes que estava indo
a São Paulo visitar Lula e o ministro do STF sugeriu que o presidente do Senado
intermediasse um encontro. Houve o encontro algum tempo depois. Gilmar entrou
feliz no escritório de Jobim e saiu injuriado e indignado. A revista Veja desta semana traz matéria sobre o
assunto, tendo como sua fonte essencial o ministro Gilmar Mendes. E porque ele
se indignara?
Mendes garante que Lula quis pressioná-lo sobre o
julgamento do Mensalão, que o PT e o próprio Lula não querem que aconteça este
ano. Ano de eleições. Além de que, ficando o julgamento para depois, muitos
crimes de penas menores iriam prescrever. Inclusive o de formação de quadrilha,
que ameaça José Dirceu, apontado na denúncia da Procuradoria Geral da República
como o “chefe de sofisticada organização criminosa”.
Mendes estava certo de que iria encontrar Lula no
gabinete de Jobim. Este diz que Mendes passou lá por acaso, pois ambos vêm
fazendo um trabalho de resgate da memória da Constituinte de 88 e, por uma
dessas coincidências que deixam os céticos com um sorriso amarelo, pois parecem
milagres, lá no escritório estava o presidente Lula.
Bem, o Blog do Moreno revelou ontem alguma coisa
de grande interesse sobre esse particular. Citando Jobim em declaração dada ao
blog no sábado à tarde: “O encontro era de Lula comigo. O Gilmar apareceu por
coincidência. ... Foi uma grande coincidência! Três dias antes, a Clara Ant me
ligou avisando que o Lula ia me ver. O Gilmar não sabia que iria encontrar o
Lula”.
E completa o Blog do
Moreno: “Hoje, Jobim está nos jornais e sites dizendo que Lula pediu a ele para
chamar Gilmar. Que ele ligou pro Gilmar para chamá-lo para o encontro”. Para
então perguntar: “Em qual Jobim devo acreditar? Naquele que me jurou no sábado
que a presença de Gilmar no seu escritório foi mera coincidência? Ou no Jobim
de hoje? Era só isso que eu tenho a dizer, caro leitor”.
Bem, já existem mil
aspectos nesse perigoso caso, inclusive uma nota oficial de Lula. E uma decisão
da oposição de entrar na Procuradoria Geral da República com uma representação
contra ele, sob a acusação de corrupção ativa e tráfico de influência no
julgamento do caso do Mensalão. Lula não tem mais foro privilegiado e,
dependendo do teor da representação, o procurador geral encaminhará o caso às
autoridades competentes. São dois dados. Devido ao espaço limitado, encerro com
uma declaração do ministro Celso de Mello, do STF: “Tentar interferir dessa
maneira em um julgamento do STF é inaceitável e indecoroso. Rompe todos os
limites da ética”, disse ele, acrescentando: “Se ainda fosse presidente da
República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que
um chefe de Poder tenta interferir em outro”. Celso de Mello disse mais, do que
dá conta o Blog do Josias, no UOL.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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