Sábado, 15 de dezembro de 2012
Do IAB
O
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) realizou nesta sexta-feira, 14
de dezembro, no Rio de Janeiro, um evento de lançamento da campanha
“Niemeyer Sim! Brasília By Cingapura Não!” para mobilizar a sociedade
brasileira contra o contrato firmado, sem licitação, pelo Governo do
Distrito Federal com uma empresa de Cingapura para planejar Brasília
pelos próximos 50 anos.
O manifesto foi apresentado pelo
presidente do IAB, Sérgio Magalhães, que destacou a indignação da classe
de arquitetos e urbanistas do Brasil contra o planejamento de uma
cidade como Brasília por uma empresa que desconhece a cultura nacional.
“A capital federal é fruto da capacidade
do povo brasileiro, concebida e planejada pelo talento dos arquitetos
Lucio Costa e Oscar Niemeyer, um retrato da cultura do país no Planalto
Central. Este planejamento não pode ser feito por expressões
urbanísticas e arquitetônicas de outro contexto e de outra cultura”,
contestou.
Para o presidente da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), Mauricio Azedo, o contrato remete ao
colonialismo e prejudica a cultura brasileira. “Esse projeto de sabor
colonial reduz a expressão cultural do Brasil em favor de uma empresa
cujos méritos precisariam ser justificados para que ela fosse
beneficiada com a obtenção do contrato deste porte”, afirmou Mauricio
Azedo.
A dispensa de licitação também despertou
críticas. O pró-reitor da UFRJ, Pablo Benetti, se declarou indignado em
nome da universidade, afirmando a reconhecida capacidade dos
profissionais brasileiros, desconsiderada pelo Governo do DF.
“Indignação com o procedimento de contratação sem concurso público ou
qualquer outro meio de transparência e com o desprezo à nossa
arquitetura e engenharia, no sentido de desconhecer a capacidade e a
importância que essas formações têm dado para o desenvolvimento
nacional”, criticou o pró-reitor.
Segundo João Suplicy, presidente da
Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA) – entidade
representativa de 32 países das três Américas – a realização do projeto
por uma empresa de Cingapura é considerada uma invasão cultural. “É
inconcebível imaginar que um patrimônio da humanidade como Brasília
sofrerá uma invasão de Cingapura. Uma invasão à cultura brasileira com
todo esse histórico de arquitetura certamente será muito nociva”, disse.
Para o presidente da Associação
Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE), Mauro Viegas, a presença
de estrangeiros em um projeto deste porte não é o problema, mas sim a
condução do plano liderado totalmente por outro país e não por
profissionais brasileiros. “A nossa associação não exclui que haja
participação estrangeira, porém essa contratação tem que ser para nos
apoiar, transferir tecnologia, mas sempre com a liderança de alguma
empresa brasileira”, ponderou Mauro Viegas.
O movimento “Niemeyer sim! Brasília By
Cingapura Não!” já está tendo também repercussão no campo político.
Segundo o presidente do IAB-DF, Paulo Henrique Paranhos, a maior parte
do senado já está apoiando a causa e movimentando ações para que a
presidência da República intervenha pela interrupção do contrato, mas o
encontro desta sexta-feira com representantes de outras entidades
fortaleceu ainda mais o manifesto.
“Temos enviado mensagens até a
presidência da República, mas com esse grupo nós podemos bater na porta
do Palácio do Planalto e pedir uma decisão mais enérgica porque Brasília
é um patrimônio cultural da humanidade e o governo federal não pode
virar as costas para esse problema”, exaltou o presidente do IAB-DF.
Já o presidente do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), Haroldo Pinheiro, classificou a
contratação um caso vergonhoso. “O CAU está preparando uma ação contra
esse evento que nos envergonha”, declarou. “Já recebemos delegações de
países do Oriente que vieram se informar como a engenharia e arquitetura
nacional tinham conseguido em três anos e meio projetar e inaugurar uma
capital da República no meio do nada. Agora, dez anos depois, uma parte
desse mesmo grupo é contratada como especialista para tratar de uma
cidade única no mundo, que foi projetada, realizada e tombada em favor
da memória da humanidade”, disse o presidente do CAU.
O manifesto do IAB também levantou
discussão sobre o aspecto social do projeto. Segundo a socióloga e
professora da PUC-Rio, Maria Alice Rezende de Carvalho, o Governo do DF
está desconsiderando a população local. “Estamos aqui fazendo a defesa
da democracia e da capacidade de participação da sociedade em seus
próprios destinos. A população deve se manifestar porque
democraticamente esperamos poder falar sobre como queremos viver nos
próximos 50 anos”, afirmou a socióloga.
O Governo do DF assinou o acordo no dia 3
de outubro com o grupo asiático Jurong. Com valor estimado em US$ 4,25
milhões, o contrato prevê a elaboração de um projeto para o
desenvolvimento da capital até 2060, denominado “Plano Brasília 2060”.
O IAB considera o contrato um crime de
lesa-cultura. Com a campanha “Niemeyer sim! Brasília By Cingapura Não!”
pretende ganhar mais força para levar ao Congresso Nacional o manifesto
da sociedade contra esta intervenção estrangeira na cidade símbolo da
arquitetura brasileira e do legado de Oscar Niemeyer.
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