Sábado, 15 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho
“Mexeu
com Lula, mexeu comigo”. Este é o mantra – já que a senadora Marta Suplicy
decretou há pouco tempo que “Lula é deus” – de uma campanha iniciada por
internautas.
Possivelmente esses internautas são os chamados petralhas, mas não tenho
provas materiais, como impressões digitais, estrelas vermelhas e broches com a
dita estrela ou o número 13, que os advogados dos réus do Mensalão exigiriam
constassem dos autos. Então, retiro os petralhas. Ou peço que se retirem.
Mantenho apenas, genericamente, os internautas. Porque aí a prova é fácil –
entrou na Internet, é internauta.
Mas a campanha é legítima.
O Supremo Tribunal Federal está
concluindo o julgamento do processo do Mensalão e chegou a conclusão oposta à
que Lula sustentava, de que o Mensalão “é uma farsa” montada pelos adversários
dele e do PT, isto é, as oposições e a imprensa.
Ora, se o STF decidiu em contrário à opinião de Lula, este tem todo o
direito de espernear, mas tem que acatar, o que não é tão doloroso assim, já
que não está no rol dos réus. Os raios foram cair nas cabeças de José Dirceu,
José Genoíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares, para ficarmos nos notórios
petistas, mas a denúncia do procurador geral da República deixara a salvo a
cabeça daquele personagem habitante do Olimpo. Ora, raios, Zeus disparava do
Olimpo à Terra, nunca do Olimpo a outros personagens do Olimpo.
Mas parece que emergiu agora outro monstro da Lagoa. As novas suspeitas
sobre a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do
Mensalão, levantadas por dois depoimentos sigilosos (mas que agora estão
vazando a cântaros) de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República.
Então, os internautas estão invadindo as redes sociais com aquele mantra
do “Mexeu com Lula, mexeu comigo”. E até se noticia que líderes petistas, entre
eles o presidente nacional do PT, Rui Falcão, aderiram à campanha dos
“internautas” – prudente por, afinal, umas aspas aqui, para orientar leitores
mais desatentos. Ora, Rui Falcão fez antes disso um pronunciamento postado na
Internet, convocando os “internautas”, a militância, a uma campanha de defesa
do presidente. Depois, anuncia-se que até aderiu à campanha que ele mesmo
propôs. Como “Lula é deus”, segundo Marta, Rui Falcão deve pensar, segundo ele
mesmo, que ele mesmo é a Eternidade, universalmente simbolizada pela cobra que
morde o próprio rabo. Adere ao que propôs!
Mas eu sugiro que a campanha agora lançada de defesa do ex-presidente
por causa das novas suspeitas de envolvimento com o Mensalão seja estendida a
mais dois assuntos.
Um deles: o Caso Rosemary, que já deixou de ser – estranhamente em tempo
recorde – um inquérito policial e a partir de ontem ganhou o status de uma
denúncia formal do Ministério Público Federal. Levado às últimas consequências
e comprovado uma boa parte do que se afirma, um caso pra desmantelo. Os
“internautas” não podem ficar de braços cruzados, eles têm que ralar para não
deixar que injustamente se manche a imagem de Lula. Afinal, José Sarney, de
quem Lula já disse que “não pode ser tratado como uma pessoa comum”, acaba de
garantir que Lula é “intocável”, não exatamente no sentido indiano de dalit.
O outro assunto a merecer atenção preventiva, tipo vacina, na campanha
dos “internautas”: a frase do “arquivo vivo” – não inventei essa expressão, bem
que gostaria – Carlos Cachoeira: “Eles sabem que sou o garganta profunda do
PT”. E acrescentou lá uma referência misteriosa qualquer à Construtora Delta.
À luta, internautas. Tende bom ânimo, pessoal. Marta diria talvez que o
deus Lula os abençoe. Mas eu não sou Marta. E meu Deus é outro.
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Artigo publicado originariamente
na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.