Quarta, 21 de agosto de 2013
O Distrito Federal tem um déficit de atendimento de 1,5
milhão de pessoas no sistema público de saúde, segundo estimativas da
Secretaria de Saúde (SES) do governo do Distrito Federal (GDF). Em 2012,
foram mais de 7 milhões de atendimentos de urgência e emergência em
Brasília e no Entorno – região que inclui cidades do Distrito Federal,
de Goiás e de Minas Gerais -, nas 59 unidades da secretaria; entre
hospitais, unidades mistas, centros de referência e centros de Atenção
Psicossocial (Caps). Nos três primeiros meses deste ano, os atendimentos
já ultrapassaram 2,4 milhões, de acordo com dados do resumo dos
serviços médico-hospitalares da SES.
Carolina Sarres, repórter da Agência Brasil
Para observar as condições do sistema de saúde no DF, a Agência Brasil visitou cinco dos principais hospitais públicos na região: o Hospital de Base, no Plano Piloto e principal instituição hospitalar da região; e os hospitais regionais de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), do Gama (HRG) e de Planaltina (HRP), nas respectivas regiões administrativas. Somados, esses cinco hospitais fizeram 25% de todos os atendimentos na rede pública da capital federal nos três primeiros meses de 2013 (603,6 mil). O de Taguatinga foi o que recebeu mais pacientes no período (136,5 mil), seguido pelo de Ceilândia (134,8 mil) e pelo Hospital de Base (129,2 mil).
“Eu não gosto de vir aqui, só venho em último caso porque o atendimento demora muito”, disse Edalina da Silva, 43 anos, que acompanhava o filho de 7 anos. O coordenador-geral de Saúde de Taguatinga, Otavio Rodrigues, explicou que há, em média, três ou quatro médicos na Emergência, dependendo da especialidade e do turno. Em relação à demora para o atendimento, ele informou que as consultas são feitas de acordo com a classificação de risco. Além disso, destacou que a quantidade de pacientes que precisam de atendimento primário é muito grande.
Sobre as condições do hospital, também há reclamações a respeito de falta de médicos, leitos e materiais hospitalares básicos – como filme para revelar exames de raio X. Em enfermarias de doenças infecto-contagiosas, onde os pacientes deveriam ficar em isolamento, chegam a ser colocadas seis pessoas em um mesmo espaço físico. O coordenador da unidade de Taguatinga disse que estão sendo feitos investimentos na manutenção e na troca de equipamentos, o que permitirá exames mais especializados.
Maria das Graças Mendonça, 65 anos, acompanhante da mãe, de 90 anos, internada há oito dias, é resignada. “Eu não tenho do que reclamar. Eles [os médicos e enfermeiros] fazem o que podem. Eu chamo quando preciso e eles vêm. A comida é boa. Para nós também não faltou remédio”, explicou.
A coordenadora-geral de Saúde do hospital de Ceilândia, Lucimar Costa Zero, informou que a Secretaria de Saúde está trabalhando para a ampliação e a modernização das unidades, com investimentos em camas eletrônicas, macas novas e modernas. Ela informou que há previsão de reforma do pronto-socorro. Em relação à demora de atendimento, a coordenadora explicou que o hospital já conta com a ajuda de recepcionistas para auxiliar na prestação de informações aos pacientes. Segundo Lucimar, espera-se que o fluxo para o hospital diminua com a inauguração de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) na cidade, até o final do ano, e de três clínicas da família. Em Ceilândia, são recebidas cerca de 850 pessoas por dia.
“Eu faço entre dois e três transportes por dia. A falta de médicos é tamanha que há casos em que são encaminhados ao [Hospital de] Base pacientes de oftalmologia, com praticamente um cisco no olho, porque não há especialista aqui [Planaltina]”, disse à Agência Brasil o motorista do Samu Francisco Brandão. Segundo a coordenadora-geral de Saúde da unidade, Mônica Rodrigues, casos deespecialidades de maior complexidade não são atendidos em Planaltina porque o hospital é de atendimento primário. Para atender casos mais graves, segundo ela, há outros hospitais da rede pública.
No Hospital do Gama, assim como em vários outros, faltam médicos de diversas especialidades e equipamentos, o que aumenta a demora no atendimento e na análise de exames, já que os pacientes têm de ir a uma outra unidade de saúde e depois retornar, o que depende de uma série de pedidos e justificativas dos médicos, aumentando a burocracia. Um exemplo é a inexistência de uma unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, sendo que são feitos mais de 5 mil partos anualmente no local. Assim, gestantes em situação de risco têm de ser encaminhadas a outros hospitais, de última hora, para dar à luz. Caso contrário, se o bebê precisar de internação na UTI, tem de entrar em uma fila de distribuição, que determina onde há vaga disponível que pode, ou não, ser encontrada a tempo de salvar a vida da criança. “Essa burocracia é um descaso com a saúde das pessoas. Peço a Deus todos os dias para não adoecer e precisar vir ao hospital", disse a manicure Teresinha dos Anjos, 48 anos.