Terça, 12 de
novembro de 2013
Por Ivan de Carvalho

Essa
piada, publicada no fim de semana, se adaptado o seu personagem português a
personagens da espionagem brasileira lotados na Agência Brasileira de Inteligência,
certamente não se ofenderia se chamada, com ou sem ironia, de Agência
Brasileira de Burrice.
O
aperfeiçoamento (ou transparência) da denominação é sugerido pela história que
veio ontem a público. Uma trapalhada que deixaria com inveja o extinto grupo
“Os Trapalhões”, que por muitos anos divertiu com uma graça meio sem graça (às
vezes inteiramente sem graça) o seleto público da Rede Globo, que se confunde
quase integralmente com o povo brasileiro.
Agentes
supostamente de inteligência (pelo menos, eram da Abin) vigiavam espiões
americanos. Isso foi em 2009, muito antes de Edward Snowden produzir a
formidável revelação de que o governo Obama esteve fazendo bisbilhotagem
cibernética na Petrobras, no Ministério das Minas e Energia e no Palácio do Planalto,
onde incluiu a presidente Dilma Rousseff. E, entre seus assessores, suponho,
mas não posso provar, os principais responsáveis pela Abin.
Não se falou coisa alguma sobre o Palácio da
Alvorada, o que certamente terá sido uma delicadeza americana, uma gentileza
especial do presidente Obama e de sua NSA (ou seria da NSA e seu Obama, porque
há muitas dúvidas sobre quem manda em quem nos Estados Unidos, mais até do que
as de quem manda em quem aqui no Brasil).
Bem, voltando ao núcleo do caso, as coisas aconteceram
em 2009, no Rio de Janeiro e o presidente da República era Lula, o cara. A
operação (meu Deus, todos os cirurgiões protestariam se comparassem as
cirurgias que fazem às operações dos oficiais da Abin envolvidos nessa
trapalhada) era contra a CIA. Isto mesmo, contra a Agência Central de
Inteligência dos Estados Unidos, uma iniciativa de extrema ousadia e que
exigia, naturalmente, extrema perícia.
Pois ousadia houve muita, mas perícia, nenhuma. A
contraespionagem da Abin, como assinala a Folha
de S. Paulo, que levantou a história, deixou os espiões americanos
perceberem que estavam sendo seguidos. Deixar que isso aconteça é a maior
besteira que se pode fazer em espionagem.
Imagino assim que os contraespiões da Abin andavam
de chapéu (quem mais ainda usa chapéus, ressalvadas mulheres em alguns
casamentos e enterros de gala), óculos pretos, ternos pretos e capas idem,
apesar do calorão carioca – capas com as golas viradas para cima, cobrindo
metade cara (a parte que a aba do chapéu e os óculos não ocultavam. E seguiam
os agentes da CIA – eram dois – dia e noite. Talvez seguissem um deles durante
o dia, o outro durante a noite, mas não foi divulgada informação sobre esse
detalhe.
Bem, ante as circunstâncias descritas, era
praticamente impossível os homens da CIA perceberem que estavam sendo seguidos.
Mas perceberam, talvez por intuição, fenômeno já comprovado pela ciência de
ponta e, bem antes, pelo povo, mais ainda negado, como outros, pelos cientistas
amestrados e por tolos presunçosos. Bem, de qualquer maneira os dois americanos
descobriram que estavam sendo seguidos, mas, equivocadamente, concluíram que o
monitoramento era feito por criminosos. E temeram sequestro.
Ocorre que os americanos, verdadeiramente oficiais
da CIA, estavam legalmente no país. Alejandro Nuñes e Guillermo de lãs Heras
estavam lotados no consulado americano do Rio de Janeiro. O primeiro chegara em
2006 como “funcionário administrativo” e o segundo, um ano depois, e, nos
registros do Itamaraty, figurava como um dos cônsules americanos no país. Em
2009, com medo de sequestro, procuraram o Departamento de Inteligência da
Polícia Federal, com o qual tinham contato (imagino que a Abin não sabia
disso!!!!!!!). Com a colaboração dos dois americanos, a PF armou uma blitz e
abordou um carro com dois homens. Surpresa absoluta: eram agentes da Abin.
Foram levados a uma delegacia e liberados sem demora.
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Artigo publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.