Segunda, 4 de novembro de 2013
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Flávia Albuquerque, repórter da Agência Brasil
São
Paulo – A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva e a
viúva de Carlos Marighella, Clara Charf, fizeram hoje (4) um ato na
Alameda Casa Branca, na região da Avenida Paulista, para lembrar a data
do assassinato do militante, ocorrido nessa rua há 44 anos, durante uma
emboscada da polícia. De acordo com a versão oficial, Marighella foi
morto em um tiroteio entre agentes policiais do Departamento de Ordem
Política e Social (Dops) de São Paulo e membros da Ação Libertadora
Nacional (ALN), organização que liderava.
De acordo com Clara Charf, o importante da homenagem é marcar uma
posição perante a história, porque muitas pessoas não sabem que
Marighella foi morto naquela rua, em 4 de novembro de 1969. “Ele veio se
encontrar com os padres [frades dominicanos que simpatizavam com a
causa] porque queria que ajudassem a tirar os perseguidos políticos do
país pela fronteira. A polícia montou todo um esquema e transformou essa
rua em um horror. Ele entrou de peito aberto como sempre, sem saber que
aquilo tudo o que havia na rua era apenas um cenário”.
Clara Charf assinalou ainda que há uma coisa nova no cenário
político brasileiro, com o surgimento de novos movimentos políticos que
estão levantando bandeiras e chamando a atenção para as injustiças da
sociedade. “Ninguém pode ficar de braços cruzados achando que vivemos em
uma democracia e que está tudo no bem-bom. Não é nada disso, existe um
regime, claro que comparando hoje com a democracia que nós conquistamos
com o que era no passado, está muito diferente, mas as bandeiras
continuam de pé, apesar de se ter conquistado muito”.
O presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens
Paiva, Adriano Diogo, ressaltou que Marighella foi um grande vulto da
história que pode ser comparado a personalidades da humanidade que
influenciaram a sociedade. “No Brasil, se Marighella não tivesse sido
morto, teria a importância de diversos personagens que foram marco na
história da civilização e organização dos povos”.
Para
Adriano Diogo, atos como o de hoje tinham que ter mais mais
participação. “Todos os jovens que se beneficiaram da luta pela
democracia deviam reconhecer a biografia de Marighella. Nós fizemos um
ato singelo em frente a um monumento quase abandonado e quais desses
jovens vultos que sucederam Marighella estava aqui hoje? Nenhum. Nem
municipal, estadual ou federal”.
Membro do Comitê Paulista pela Verdade e Justiça e do Fórum de
Ex-Presos Políticos e Perseguidos do Estado de São Paulo, Clóvis de
Castro destacou que a homenagem ao militante é justa porque é importante
lembrar sempre das pessoas que lutaram pela democracia. “Nesta data e
neste local, onde há 44 anos Marighella foi assassinado, nós
homenageamos todos os combatentes que participaram da luta contra a
ditadura militar”.
Gregório Gomes da Silva, filho de Virgílio Gomes da Silva,
desaparecido durante a ditadura, disse que o dia 4 de novembro está se
tornando um marco nas homenagens à resistência da juventude nas décadas
de 60 e 70, durante a ditadura, e à retomada da democracia do Brasil.
“No contexto em que está a sociedade atualmente, esta data também se
torna um marco de reencontro e reforço dos compromissos que eles
firmaram no passado e nós reassumimos agora”.
Laura Petit da Silva, irmã de três desaparecidos, e representante da
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, disse que
homenagens como a feita hoje servem para manter viva a memória de
pessoas consideradas heróis na luta pela democracia. “Não só [preservar]
a memória, mas buscar a verdade e a justiça. Marighella serve como
exemplo para as novas gerações, para que esses fatos nunca mais
ocorram”.
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Leia também o artigo Um filme para lembramos a morte de Marighella: "Batismo de Sangue"
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