Sexta, 20 de fevereiro de 2015
Da Tribuna da Internet
Da Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Os
advogados de empresas empreiteiras que procuraram e foram recebidos pelo
ministro José Eduardo Cardozo, com seus clientes figurando entre os acusados
pela Operação Lava jato, cometeram um erro enorme e, no final de mais esse
capítulo, abalaram seriamente a posição política do titular da Justiça. O juiz
Sérgio Moro e o ministro aposentado Joaquim Barbosa condenaram tanto a
iniciativa dos advogados quanto o fato de terem sido recebidos fora da agenda
ministerial.
Reportagem
ontem em O Globo, de Cleide Carvalho, Renato Onofre, Cristiane Jungblut e Júnia
Gama representa uma peça importante que deixou muito mal, de um lado, as
empresas, de outro, o ministro Eduardo Cardozo. Além do aspecto antiético
contido na questão, sobrepõe-se o equívoco. Procurar o titular da Justiça para
quê? Para nada. Para influir na atuação da Polícia Federal? Equívoco completo.
Pois se o ministro Eduardo Cardozo possuísse alguma influência sobre a Polícia
Federal, claro, as investigações não teriam chegado ao ponto que
alcançaram e estão alcançando a cada dia.
Pois
é óbvio que o aprofundamento do caso não é de interesse do governo. Se fosse, o
discurso da presidente Dilma Rousseff teria sido revestido de um tom muito mais
forte do acentuado até agora. Na verdade, de fato, o titular da Justiça não
exerce comando algum quanto à PF. Os advogados não só perderam tempo, como
também expuseram o ministro da Justiça a uma situação alarmante. O
ex-presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, em declarações no twitter,
quarta-feira, chegou a pedir a demissão de Eduardo Cardozo. Este, aliás, agiu
de forma imatura, não avaliando os reflexos e a repercussão de sua atitude.
Esvaziou-se, perdeu autoridade e apresentou explicações que nada explicam.
RECEBER ADVOGADOS?
Cardozo
chegou ao ponto de afirmar que o cargo que ocupa inclui receber advogados que
funcionam em processos relativos à sua pasta. Não é o fato. Pois se assim
fosse, teria que receber, não apenas alguns, mas todos os advogados que
solicitarem audiência. Nesse caso, o ministro não teria tempo para fazer coisa
alguma. Basta lembrar o número de processos que aguardam anos pelo cumprimento
de decisões judiciais contra o INSS, por exemplo. A oposição parlamentar
vai pedir a convocação de Eduardo Cardozo para depor na Comissão de Constituição
e Justiça do Senado e também na CPI da Petrobrás, criada há poucos dias na
Câmara dos Deputados.
O
juiz Sérgio Moro foi bastante afirmativo ao dizer (O Globo de ontem) tratar-se
de tentativa indevida das empreiteiras, embora mal sucedida. Perfeito. Se a
situação dos empresários acusados já estava péssima, ficou ainda pior. Isso de
um lado. De outro, a atitude de Cardozo recebendo os advogados fora de sua
agenda pública afetou ainda mais o governo Dilma Rousseff, contribuindo para
ampliar seu desgaste junto à sociedade e, portanto, no conceito da opinião
pública.
DESGASTE DO GOVERNO
Se o
Datafolha ou o IBOPE realizarem pesquisa neste momento, o resultado será pior
para o poder Executivo do que o conceito acentuado no levantamento que a FSP
publicou há cerca de duas semanas.
Falta
um aspecto que assinala a imaturidade de José Eduardo Cardozo: será que ele
imaginou que ninguém iria saber, em plena tempestade, da realização da
audiência? Não dá para entender o titular da Justiça. Fatos como esse
vazam eternamente. As informações voam. E não se restringem à forma. Vão além:
abrangem até as intenções de tais encontros.