Por Adriano Benayon* | Brasília, 17/08/2015
Muitas
pessoas não concebem como possível a perversidade com que são conduzidas as
políticas de Estado das potências imperiais, seja essa perversidade o motivo
primeiro ou efeito colateral de seus jogos de poder.
2.
A oligarquia financeira controla os governos dessas potências e os seus
sistemas de instrução pública e de comunicação social, incumbidos de gerar a
carência de capacidade analítica e interpretativa dos fatos, que determina as
maiorias a não perceberem o quanto as políticas imperiais são destrutivas e
mesmo genocidas.
3.
As potências imperiais são o Reino Unido (Inglaterra) e os Estados Unidos,
cujas oligarquias financeiras se interpenetram. Outras, a elas associadas, são
subimperiais, antigas potências imperiais derrotadas na disputa pela hegemonia
e que se associaram ao império dominante.
4.
É o caso, pela ordem cronológica, de Holanda, França e Alemanha. Esta aparece,
hoje, como a principal delas, dando, na Europa a falsa impressão de ter luz
própria, ao aparecer como o grande opressor direto dos países relegados à
condição de periferia da União Europeia.
5.
A notável vocação tecnológica e industrial da Alemanha, semelhante e maior em
grau que a da França, tornou-se, para o império angloamericano, um sério risco,
do ponto de vista de sua pretensão de hegemonia mundial absoluta.
6.
Essa é a origem das duas guerras mundiais que marcaram o Século XX. A França já
caíra a segundo plano, desde o final das guerras napoleônicas, e a Holanda fora
batida na segunda metade do Século XVII.
7.
A Alemanha desenvolveu-se, desde o Século XVIII, impulsionada por clarividentes
políticas de Estado, que culminaram, na segunda metade do Século XIX, com o
primeiro-ministro Otto von Bismarck, que levou a Alemanha pouco após sua morte,
em 1890, a ultrapassar a Inglaterra em poder industrial.
8.
Pouco antes disso, intrigas da diplomacia e dos serviços secretos britânicos
fizeram com que Bismark fosse demitido pelo novo Imperador, Guilherme II.
9.
O objetivo fora desmontar o edifício de alianças construído por Bismarck, que
assegurou evitar a eclosão de algo como a primeira guerra mundial ainda no
século XIX.
10.
Não que Bismarck fosse pacifista. Nada disso: o mestre-mor do realismo político
ficara contente com o status quo, após ter
liderado a Alemanha em várias guerras e vitórias que a colocaram em posição de
destaque no cenário do poder internacional.
11.
Finalmente, a Grã-Bretanha (Inglaterra) logrou envolver o Imperador alemão em
suas provocações, após o ter afastado da Rússia e desencadear a guerra, em
1914, da qual acabaram participando dezenas de países nas duas coligações que
se opuseram.
12.
O objetivo mesmo foi debilitar Alemanha e França ao mesmo tempo, eliminar a
Alemanha como concorrente na hegemonia mundial e consolidar a condição de
potência de segundo plano da França.
13.
Conseguiu: entre outros resultados, morreram seis milhões de franceses e cinco
e meio milhões de alemães, sem falar em milhões de mortos de aliados de uma e
de outra.
14.
A Alemanha foi, ademais, condenada, em função da “Paz” de Versalhes (1919), a
pesadas reparações de guerra, que teve de pagar principalmente à França e
também à Grã-Bretanha, as quais repassavam o dinheiro aos EUA para servir a
dívida decorrente dos financiamentos recebidos para custear a guerra.
15.
Seguiu-se a enganosa euforia dos anos 1920 e a depressão econômica e social dos
anos 1930, entre cujas manifestações políticas avultou o fascismo, inclusive
nazismo.
16.
Muito se tem discutido sobre a natureza desse regime. Há pouco divulgou-se
artigo referente à obra do historiador italiano Renzo de Felice, segundo o qual
o fascismo teria, na maioria dos casos, ascendido ao poder através de golpes de
audácia, favorecidos pela covardia das classes dominantes e médias.
17.
Nesses debates apareceu a asserção, equivocada, mas não contestada, de que a
Alemanha foi o único caso em que o fascismo chegou ao poder por eleições
diretas.
18.
De fato, foi uma conspiração, envolvendo chantagem junto ao presidente,
Marechal Hindenburg, conduzida por banqueiros alemães associados à oligarquia
financeira angloamericana.
19.
Do ponto de vista formal, assinale-se que no regime parlamentarista da
Constituição de Weimar nem existiam eleições diretas. Mas o importante é que os
nazistas, nas eleições para o Reichstag, nunca tiveram votos suficientes para
escolher o chefe do governo (o presidente é o Chefe de Estado).
20.
Os nazistas nunca obtiveram, nem de perto, a maioria absoluta, que os levasse a
comandar o parlamento e o governo conforme a Constituição.
21.
Nas últimas eleições, em novembro de 1932, tiveram declínio na votação, para 32%.
Nunca havia maioria parlamentar, e o presidente sempre escolhia o Kanzler,
conforme um artigo de exceção, no caso de não haver maioria no Reichstag.
22.
Hindenburg decidira, após aquela eleição, nomear o chefe do Estado-maior do
Exército, General Kurt von Schleicher, o qual reverteria a depressão e o
descalabro financeiro, com economistas, como Lautenbach e outros, de confiança
de Federações patronais e de sindicatos de trabalhadores, com políticas de
conteúdo superior às de Keynes e de Schaacht, o czar da economia de Hitler.
23.
Isso não agradou, de forma alguma, a oligarquia financeira angloamericana, que
jogou a carta de Hitler, com intenção, convertida em realidade, de causar a 2ª
Guerra Mundial. Ao contrário da difundida e falsa imagem do ditador nazista,
ele não era nacionalista, mas sim somente racista, fanático admirador do
imperialismo britânico.
24.
Antes de galgar o poder e fazê-lo absoluto, com o golpe de incendiar o
Reichstag, cassar os mandatos dos deputados comunistas, para obter a maioria absoluta
que lhe permitiu conseguir os plenos poderes, Hitler prometera invadir a
Rússia, o que cumpriu em junho de 1941.
25.
Foi notório e conspícuo o apoio e a admiração recíproca entre líderes da
indústria e das finanças angloamericanas, bem como de figuras de proa da
família real britânica, e Hitler.
26.
A simpatia deste pelos britânicos teve, entre outras confirmações, a
determinação do Führer aos chefes militares de darem ordem de alto ao Exército,
sem a qual os panzers alemães teriam esmagado, na Flandres (França e Bélgica),
a força expedicionária do Reino Unido (ou a feito prisioneira), no final de
maio de 1940, quando mais de 300 mil combatentes foram evacuados na famosa
retirada de Dunquerque.
27.
A 2ª Guerra Mundial começou para valer na Europa, no verão seguinte, quando
Hitler ordenou a operação Barbarossa (invasão da Rússia), engajando nela, a
quase totalidade do poderio armado alemão.
28.
Então ocorreram as grandes batalhas da 2ª Guerra Mundial, por quatro anos, até
o final de maio de 1945, a maior parte dos quais em território da União
Soviética, cujos mortos são calculados em 20 milhões, além de seis milhões de
alemães, afora enorme devastação material.
29.
Novamente, o objetivo era destruir duas potências rivais. No caso da Alemanha
completar o debilitamento encetado com a 1ª Guerra Mundial. No da Rússia,
aniquilar a economia e o poder de um enorme país que apresentava potencial de
surgir como potência de primeiro plano.
30.
As forças angloamericanas – notadamente a aviação, área em que tinham
superioridade – ajudaram a destruir a infra-estrutura alemã, na fase final da
guerra, quando a Rússia já havia feito o essencial do serviço. Além disso, os
angloamericanos assassinaram centenas de milhares de alemães, por meio dos
bombardeios genocidas a várias cidades, notadamente Dresden e Berlim, com o
objetivo colateral de intimidar a Rússia.
31.
Fizeram algo semelhante na Guerra com o Japão, quando este já estava derrotado
e pronto a assinar a rendição, fazendo os bombardeios nucleares sobre Hiroshima
e Nagasaki (06 e 09 de agosto de 1945).
***
Adriano
Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
Acesse o Blog do Adriano Benayon
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