Terça, 12 de janeiro de 2016
Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil
Brasileira
que mora na Cisjordânia e cujo filho está preso pelo governo
israelense, Nadia Hamed diz que Israel tem fechado o cerco a cada dia e
chegado mais próximo dos palestinos que moram na cidade de Silwad. Ela
faz duras críticas às vistorias feitas frequentemente pelo Exército
israelense sem nenhum tipo de aviso prévio.
O filho de Nadia,
Islam Hamed, foi preso em 2015, após ter sido detido outras vezes e
cumprir pena por mais de cinco anos. Na semana passada, a casa de Nadia
foi completamente revistada pela polícia de Israel durante a madrugada.
No último fim de semana, as forças israelenses voltaram a bater às
portas da casa de Nadia, desta vez para intimar o outro filho dela,
Bilal Hamed, para um interrogatório.
“A gente está
acostumadíssimo. Eles sempre fazem isso”, afirma. Segundo ela, a
primeira ação das forças israelenses ocorreu às 2h de quarta (6) para
quinta-feira passada, e as autoridades não deram nenhuma explicação
sobre o motivo da revista.
“Depois de levantarmos, puseram-nos
para sentar na sala de jantar e começaram a revistar todos os quartos da
minha casa. Se a gente abrir a boca para fazer qualquer pergunta, eles
mandam você se calar e apontam armas. Eles tiraram as roupas que estavam
no guarda-roupa, colocaram o sofá de cabeça para baixo”, conta.
Os
homens ficaram por mais de uma hora na casa da brasileira. De acordo
com Nadia, na mesma noite mais 28 casas foram revistadas pelo governo de
Israel, algumas delas após a destruição da fechadura das portas.
Procurado pela Agência Brasil,
o Ministério das Relações Exteriores confirmou que a casa de Nadia e
outras residências foram “alvo de revista” pelas autoridades
israelenses. Segundo o Itamaraty, esse tipo de ação em territórios
ocupados por palestinos costuma ocorrer de forma “rotineira”.
De
sábado (9) para domingo, novamente de madrugada, o Exército entrou mais
uma vez em sua casa, desta vez para convocar Bilal a comparecer diante
das autoridades policiais na quinta-feira da próxima semana (21).
“Cada
região tem um capitão sionista [judeu nacionalista]. Quando ele é
trocado, começa a chamar os jovens para conhecer. Fica umas duas horas
[interrogando], [pergunta] o que faz, se estuda, se trabalha. No fim,
pergunta para o moço se quer trabalhar com ele de espião”, conta.
De
acordo com a brasileira, a cidade de Silwad tem sido gradualmente
ocupada pelos israelenses. “Aqui é uma ocupação. Temos terra em toda
essa parte. Mas os colonos construíram casas, estão pegando nossa terra e
construindo casa para eles. Tenho terras nesse lugar por parte do meu
pai e do meu marido. Eles pegaram a terra e hoje está uma enorme vila”,
critica.
Na opinião de Nadia, as operações dos últimos dias não
têm relação com o fato de o filho estar preso. No ano passado, Islam foi
posto em liberdade pela Autoridade Nacional Palestina após ficar 100
dias em greve de fome, em protesto pela prisão que considerava
irregular. Ele alegava que já tinha cumprido o tempo definido pela
Justiça palestina.
Em outubro, Islam foi preso novamente. Nadia
afirma que a família não tem permissão para visitá-lo na prisão e que o
único contato que tem com o filho é nos momentos em que ocorrem
audiências no tribunal. “Eles falam que ele tentou comprar arma.
Prenderam Islam perto de uma casa, se ele tivesse arma, iriam
encontrá-la com ele”, argumenta.
Aos 17 anos, Islam foi preso
pela primeira vez sob a acusação de atirar pedras em policiais
israelenses, e ficou detido por cinco anos. Após ficar nove meses em
liberdade, ele foi novamente preso sem uma acusação concreta, mas por
supostamente oferecer perigo à segurança da nação israelense.
“Por
que eles entram? É nossa cidade. Por que ficam em volta da gente? Por
que eles amanhecem cedo entrando em nossa cidade? Eles entram com o
Exército. Então, quando os moços veem isso, as crianças e os
adolescentes... Eles ficam procurando briga e quando acontece alguma
coisa, somos nós os terroristas”, questiona.
Antes de ser preso
pela última vez, Islam estava escondido dos judeus em um local
desconhecido da família, informou a mãe. O brasileiro-palestino mantém
uma atividade política de oposição ao governo palestino.
“Ele,
como qualquer moço, procura defender a terra, um direito nosso, um
direito que nós temos. As coisas são difíceis. É difícil para explicar.
Só mesmo morando para ver como nós, palestinos, sofremos aqui. A gente
não pode ser livre para nada. Mesmo viajar para Jordânia [país vizinho],
quando chegamos na divisa, se não quiserem deixar, a gente não entra”,
queixa-se.
A Agência Brasil entrou em contato
com a Embaixada de Israel no Brasil para questionar os motivos das
operações do Exército e também para saber a situação de Islam e as
acusações movidas contra ele, mas não recebeu resposta até o fechamento
desta matéria.