Sábado, 8 de abril de 2017
Mas não é apenas contra a burguesia tradicional que o PSOL deve se
armar. A burocracia corrupta que aceitou ser agente dos interesses
burgueses também é inimiga das necessidades do povo.
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Por Luciana Genro
Contra Temer e contra o PSDB, o PSOL precisa afirmar que luta e se
postula nas ruas, defendendo a greve geral, mas também nas urnas.
Mas não é apenas contra a burguesia tradicional que o PSOL deve se
armar. A burocracia corrupta que aceitou ser agente dos interesses
burgueses também é inimiga das necessidades do povo. A liderança de Lula
não representa a esquerda – e isso deve ser dito em alto e bom som. Eu
estava, assim como minha corrente, preocupada com o risco de o PSOL não
lutar também contra essa falsa alternativa. Por isso os camaradas da
Direção do MES lançaram uma carta. Como fundadores, era nossa obrigação
alertar o partido sobre os riscos de não definir uma candidatura
própria. Caso contrário pareceria, como já precipitadamente acusavam
alguns, que o PSOL aceitaria fazer o jogo do lulismo. Mas não. O PSOL
nasceu contra a traição da cúpula do PT. O fato de o governo Temer ser
ilegítimo e de ser o pior governo da história da corrupta democracia
brasileira não isenta a liderança de Lula desta responsabilidade. Assim,
cabe ao PSOL se apresentar para a disputa em todos os terrenos e também
na disputa presidencial.
Com este objetivo, sugerimos o nome de Marcelo Freixo. Explicamos
porque Freixo deveria assumir esta responsabilidade. Basicamente é o
nome mais forte do PSOL, poderia atrair muita juventude e até setores
petistas cansados das práticas de sua cúpula, setores intelectuais e
artistas, em especial do Rio de Janeiro, que lhe apoiaram na campanha da
Prefeitura.
Nos tranquilizamos que a Executiva Nacional votou por unanimidade, no
último final de semana, como resposta à discussão suscitada por nosso
texto, que o partido terá candidato próprio. A necessidade de ter um
candidato e de que todas as lideranças públicas do partido assumam esta
responsabilidade nos levou também a apresentar meu nome, caso Freixo
recusasse a proposta, como já havia manifestado.
Posso disputar qualquer cargo eleitoral, mas me dispus a assumir
novamente a batalha presidencial, mesmo com a lei Cunha e as grandes
limitações que ela impõe. Apesar disso, confio que ganharíamos força.
Tenho disposição de sobra para enfrentar os políticos burgueses.
Disposição de sobra para reivindicar a primavera feminista. Diante da
recusa reiterada de Freixo, meus camaradas do MES colocaram a
necessidade de lutar pelo meu nome. Mas sei que meu nome não é consenso.
No partido tivemos uma importante corrente de opinião que se recusou a
defender eleições gerais como alternativa ao impeachment e se limitou a
ter como política o Fica Dilma. Uma parte destes setores partidários,
neste caso menos expressiva, se recusou a defender eleições diretas
mesmo depois de consumado o afastamento de Dilma, só aceitando esta
bandeira depois que o PT a adotou. Sou consciente também que uma parcela
importante de dirigentes do partido mais atacaram a Lava Jato do que a
defenderam. Como regra, diziam que ela só atacava o PT. Eu defendi muito
mais a Lava Jato do que apontei seus limites e problemas, mesmo sabendo
que eles existem e que são parte dos problemas globais do nosso sistema
penal. Junto com minha corrente, sempre defendi que a Lava Jato estava
cumprindo um papel positivo ao enfraquecer um sistema político corrupto e
burguês. As prisões da cúpula do PMDB do Rio falam por si só – o que a
cara de Aécio na Veja mostra também. Apesar disso, este é um tema que o
PSOL não tem resolvido. Não há consenso e minha posição não é a de
todos. Ao contrário, creio que o partido perdeu uma imensa chance ao não
defender de maneira resoluta esta causa justa apoiada pelo povo.
Diante das divergências é preciso escolher. Creio que o mais urgente é
ter um nome do PSOL que faça o partido presente na disputa com a
burguesia e o lulismo, para isso sugeri que o MES busque uma solução de
compromisso. Como sei que Marcelo Freixo e outras lideranças querem
Chico Alencar como candidato, sou da opinião de que este nome pode
indicar um caminho de unidade. Somos sinceros em dizer que para nós o
nome ideal é o de Marcelo Freixo, por sua representatividade social. Mas
em política nem sempre o ideal é possível. E o mais grave é não ter
candidatura já. Isso mataria o PSOL.
Além disso, é preciso ser dito: respeitamos muito o nosso Deputado
Chico Alencar. Ele tem uma posição sobre a Lava Jato muito próxima da
minha. Tem uma trajetória de respeitabilidade, a qual tem como principal
marca o compromisso ético e a recusa à lógica dominante da política de
toma lá, dá cá. Por isso, foi escolhido diversas vezes como um dos
melhores deputados federais. Teve papel muito importante contra Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), um dos maiores corruptos do país, e nesta luta
fortaleceu o PSOL. E sempre esteve entre os mais votados do partido no
Rio.
Por isso, com suas ideias corretas sobre questões fundamentais, entre
elas o apoio à Lava Jato, ele pode fazer do PSOL um polo de luta e
reconstrução da esquerda. O importante é que comece já. Então, para
evitar que essa decisão só seja tomada após uma longa disputa
congressual é muito melhor já se cerrar fileiras com o nome de Chico
Alencar.
Neste sentido, com a concordância do Secretariado Nacional do MES,
retiro o meu nome da discussão para presidência da República e apoio o
nome do companheiro Chico como candidato de consenso, a ser apresentado
publicamente de forma imediata para que possamos dialogar com as forças
políticas que estão dispostas a construir uma frente de esquerda contra a
burguesia e o lulismo.
Saudações, Luciana Genro