Sábado, 24 de novembro de 2018
Do
Política Econômica do Petróleo
Novo ministro da Educação e controle ideológico das escolas
Wladmir Coelho
Observa-se com frequência o recurso do discurso da manutenção da ordem associando esta ao fato patriotismo curiosamente negando a associação deste ao nacionalismo econômico.
Ordem, neste caso, associa-se ao principio defendido por Adam Smith, no final do século XVIII, da existência de etapas para a emancipação dos diferentes povos ficando o menos avançado submetido ao mais desenvolvido economicamente.
Este princípio, quando aplicado ao Brasil, encontra em diferentes autores de fundamentação liberal as justificativas para defesa de políticas econômicas antinacionalistas entendendo esta como única forma de garantir a superação natural das etapas que elevariam um povo de sua condição econômica inferior ao Olimpo do crescimento.
Fica claro, neste ponto, a ideia de ordem associada a submissão dos princípios de uma corrente de pensamento cuja principal característica foi legitimar um modelo econômico amparado na submissão plena aos interesses do mais avançado economicamente.
Nega-se neste ponto o recurso à análise histórica atribuindo a simples ação da natureza as questões decorrentes do modelo econômico, ou seja, a ideia do patriotismo associado a submissão à ordem omite em sua essência a existência do fato nação ou a construção histórica desta.
Ficam, neste modelo de análise, obscurecidas as causas da miséria, da injustiça social atribuídas, de forma geral, às questões relacionadas a raça ou naturalizadas como simples etapa a ser superada mediante a submissão plena de um povo à natureza da economia ficando ao Estado a recomendação de promover ou estimular a caridade.
Amenizar ou superar as questões relacionadas a educação, saúde, moradia, emprego através da caridade sabemos todos não é possível considerando o simples fato da necessidade constante de acumulação decorrente das atividades de qualquer segmento empresarial.
A quebra da dita ordem natural surge exatamente neste ponto considerando de um lado o caráter de acumulação e do outro as necessidades básicas de quem trabalha e neste momento o conflito ganha a sua forma.
No Brasil de nossos dias o modelo bolsonarista de governo vai revelando com clareza absoluta o discurso da manutenção da ordem como justificativa plena da submissão ao imperialismo estadunidense e para este fim assume a defesa de um modelo autoritário amparado no fortalecimento do poder executivo federal, controle ideológico da educação, extinção dos direitos sociais.
Para ilustrar este aspecto utilizo o trecho de artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo de 3 de agosto de 2018 assinado pelo futuro ministro da educação Ricardo Vélez Rodríguez: “Soberania popular sem limites é a fonte da deturpação do sentido do nosso republicanismo”.
Na frase em questão o futuro ministro da educação condena as ações intervencionistas do Estado brasileiro durante o período Vargas e Lula associando estas a quebra dos princípios de submissão presentes no liberalismo clássico e por consequência o isolamento do Brasil dos países avançados economicamente.
Com nitidez espantosa Rodríguez assume a posição do patriota contra a nação, antinacionalista e opositor dos trabalhadores ao defender a subordinação do povo aos interesses econômicos externos entendendo, no mesmo texto, que: “A soberania [do povo] é limitada e se restringe à gestão do Estado no sentido de preservar os direitos inalienáveis dos cidadãos, que continuam gozando dos seus direitos à vida, à liberdade e às posses.”
Eis a ordem! Neste quadro de limitações ficam intocáveis a propriedade privada – excluída de sua função social – e desta qualquer política de redistribuição ou mesmo os direitos sociais cuja base encontra-se na existência de um modelo econômico limitador ou regulamentador do lucro seja através da tributação, política salarial ou regulamentação das relações de trabalho.
A negativa da soberania popular, defendida pelo futuro ministro da educação, reflete o projeto de criminalização dos movimentos sociais ou transformação destes em organizações terroristas conforme recentes declarações do futuro ministro da justiça.
Na educação reside na campanha de perseguição aos professores através do conteúdo da chamada Escola sem Partido totalmente voltado ao atendimento do projeto econômico em curso adequando a escola ao processo de negação da história em sua condição cientifica, portanto, legitimador da ordem autoritária.
O discurso patrioteiro da ordem adotado pelo futuro governo apenas serve aos interesses dos setores, nacionais e estrangeiros, que sempre lucraram com a exploração de nosso povo.