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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Números não comprovam melhora no IHB e precisam ser esclarecidos

Segunda, 26 de novembro de 2018
Do Política Distrital


Por Gutemberg Fialho
presidente do Sindicato dos Médicos do DF
Além de conflitantes entre si, os números apresentados até agora sobre a produtividade do Instituto Hospital de Base não permitem dizer que a mudança na gestão está sendo bem-sucedida. Apontam, no máximo, que o desempenho do hospital durante os três primeiros anos do atual governo foi abaixo da média histórica. A tática para tudo parecer bonito é parecida com o que fazem alguns espertalhões na “black friday”: aumentam preços para dar desconto e vender tudo por valor semelhante ou igual ao que já era praticado.

Em janeiro, em matéria publicada em um dos jornais da cidade, foi apontada uma meta de “aumentar a produtividade em 20%, a partir da média dos últimos três anos” – o que representaria “ao menos 290.193 consultas médicas especializadas e 9.223 cirurgias”. Considerados esses números, entre 2015 e 2017, a média de “consultas médicas especializadas” seria de 232.155 e a de cirurgias, 7.379 por ano.

Considerados os relatórios de serviços médicos hospitalares de 2000 a 2014, a média anual do Hospital de Base era de 481.772 consultas, sendo 269.514 eletivas. A média de cirurgias era de 9.947, entre eletivas e emergenciais.

Há oito anos, em 2010, ano em que a desordem no governo era tal que o DF esteve ameaçado de intervenção federal, o Hospital de Base ofereceu 504.468 consultas, das quais 304.623 foram eletivas. Também realizou 10.396 cirurgias eletivas e na emergência.
No governo Rollemberg esses relatórios deixaram de ser publicados e os Relatórios Anuais de Gestão não trazem esse nível de detalhamento. O único relatório de atividades do Instituto Hospital de Base que é público, refere-se ao primeiro quadrimestre deste ano e também não oferece as informações suficientes para uma comparação completa.

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Em matéria publicada por outro jornal, no início de setembro, foram apresentados números referentes a janeiro e junho. Teriam sido feitas, 220 cirurgias “programadas” no início do ano e 446 no meio. A média de quinze anos antes da “era Rollemberg” era de 452 cirurgias eletivas por mês. Em 2010 foram 484 e em 2013 se atingiu o recorde de 656 cirurgias eletivas por mês

De outro lado, os processos administrativos do Instituto também estão em xeque. Na primeira quinzena deste mês, o Tribunal de Contas do Distrito Federal acatou representação do Ministério Público de Contas (MPC) e do Sindicato dos Médicos (SindMédico-DF) no caso da contratação de serviços de radiologia e imagem pelo IHBDF por valor que supera R$ 21,8 milhões anuais. O Sindicato questiona a contratação de prestadores de serviço havendo servidores dessa área lotados na unidade.

O MPC, por sua vez, aponta a inabilitação de empresa que apresentou o menor preço e a ausência de justificativa técnica para os preços adotados. No processo 24.701/18, aquela promotoria também destaca “ser necessário apresentar um registro de cálculos tratando de uma série histórica de quantidade de procedimentos e valores pagos relativos aos salários de servidores do antigo Hospital de Base que executam os serviços”.

Também nessa situação, a falta de transparência e a manipulação de informações estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde do atual governo se prestam a dificultar o controle externo e a distorcer fatos para realizar seus intentos. Para dirimir as dúvidas, seria saudável o governo que vai assumir em 2019 promover uma auditoria completa tanto no que diz respeito à oferta de assistência quanto aos contratos firmados no IHB.

Gutemberg Fialho é presidente do Sindicato dos Médicos do DF