Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O cenário étnico do Brasil mudou, senhores empresários. E esta é uma ótima notícia!

Sexta, 30 de novembro de 2018
A presença da diversidade nas esferas de decisão das organizações colabora para ganhos competitivos, comprovam pesquisas.


Por José Fernando de Oliveira Moreira, 54 anos, Consultor em Gestão do 3º Setor, fundador do  IBA- Instituto Brasil África e CEO da Differente Consultoria e Projetos.

Já passa da hora de as empresas, especialmente as grandes corporações no Brasil, compreenderem que o cenário etnicorracial do país mudou e que, do ponto de vista das representações, a posição dos brasileiros e brasileiras descendentes de africanos tem sido drasticamente modificada pelos seus próprios esforços, seja no campo econômico, cultural ou político. Apoiada em algumas importantes políticas de ação afirmativa, especialmente na área da educação (Lei 10.639/2003, cotas étnicas no ensino superior) e no trabalho e renda (afroempreendedorismo, cotas étnicas nos concursos públicos), a população afrobrasileira, numericamente majoritária segundo o IBGE, vem paulatinamente superando o legado escravista de exclusão e subalternização nos espaços de prestígio e poder em nosso país. E consequentemente nos estratos de maior poder de consumo e aquisição.

Reconhecer e promover estas mudanças, evidentes até aos olhos mais 'fechados', não é obrigação das empresas privadas, que visam prioritariamente o lucro, mas representa um diferencial de qualidade no relacionamento com toda a sociedade pluriétnica em que estão inseridas e que dá a estas empresas suporte para existência e desenvolvimento. Exemplos desta postura inclusiva são campanhas publicitárias que retratam pessoas negras em posição de dignidade, como as da empresa de cosméticos O Boticário e da montadora de automóveis Chevrolet, ou programas de promoção interna da diversidade étnica, como a Mastercard, a Sodexo , a Bayer e a P&G, que levaram estas empresas a alcançarem, também no Brasil, resultados melhores que suas concorrentes insensíveis à nova realidade etnicorracial brasileira. Confirmando resultados de recente relatório (Delivering Trough Diversity) da prestigiada consultoria internacional Mckinsey & Company o qual demonstrou, entre outras importantes conclusões, que empresas promotoras da diversidade apresentam 33% maior probabilidade de lucratividade acima da média em suas áreas de atuação.

Na contramão desta corrente de respeito à diversidade, casos de racismo envolvendo grandes empresas, como o da Burger King (recentemente condenada pelo TJ/RJ), a seleção monocromática de trainees do LinkedIn BR e agora o chocante comercial da Perdigão/BRF, tornam ainda mais explícita a distância existente nas esferas de decisão estratégica de algumas empresas em relação à comunidade que estas organizações pretendem atender com seus serviços e produtos. O mundo mudou, o Brasil mudou e as empresas, sejam de qual for o porte e ramo de atuação, devem se adequar para não perderem espaço no mercado e, o mais importante, não serem vistas como promotoras do atraso e da insensibilidade.

Os empresários e times de executivos de grandes organizações precisam compreender que ter sua imagem associada aos piores e mais ultrapassados valores brasileiros pode ser fatal para o seu negócio.

José Fernando Oliveira Moreira - Fundador e CEO da Differente Consultoria e Projetos