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(Millôr Fernandes)

domingo, 11 de outubro de 2020

Mudanças no Setor Comercial Sul: Sentença de morte ao projeto de Lúcio Costa

 Domingo, 11 de outubro de 2020

Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna


Alterar as características do Plano Piloto é ferir de morte o diferenciado conceito urbanístico de Lucio Costa e, por isso, reconhecido pela Unesco. Acabar com a diferenciação dos setores é dotar Brasília de formatos urbanos iguais a qualquer outra metrópole, arriscando-se, inclusive, a perder a condição de Patrimônio da Humanidade, conferida pela Unesco.


Por Chico Sant’Anna (*), publicado originalmente no semanário Brasília Capital

Permitir residências no Setor Comercial Sul, área gregária de Brasília, tem o mesmo peso de agressão ao projeto de Lúcio Costa que teriam a construção de um shopping no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, ou a instalação de estabelecimentos industriais no interior das superquadras.

O Projeto de Lúcio Costa para o Plano Piloto de Brasília vai muito mais além do que os dois eixos se entrecruzando e que formam as zonas residencial e institucional. Baseado em características da moderna arquitetura de então, o urbanista desenhou uma cidade dotada de quatro escalas urbanas capazes de oferecem condições diferenciadas para que em seu cotidiano o morador de Brasília pudesse desfrutar a diversidade da cidade.

Assim, como ele próprio afirma no documento Brasília 57-85, foram definidas a escalas:

Residencial – constituídas de superquadras voltadas ao convívio das pessoas, notadamente, em torno das unidades de vizinhanças onde existiriam escolas, equipamentos de lazer, comércio local;

Monumental: no Eixo Monumental, da Praça dos Três Poderes até a Praça do Buriti. Palco para o de mais importante houvesse na moderna arquitetura brasileira, que fosse despojada e de pureza plástica. “A parte da cidade imaginada para ser superlativa, magnífica” – como definiu Clarice Lispector, ao escrever Brasília;

Gregária: com a intenção de agregar os seres humanos, o local do convívio. Vai da Plataforma Rodoviária, onde estão os setores de diversão Sul e Norte, aos setores comerciais, bancários, hoteleiros, médico-hospitalares, de autarquias e de rádio e TV;

Bucólica: a que dá a condição de cidade parque à Brasília, com suas grandes áreas verdes, com o horizonte do céu desimpedido, áreas livres destinadas à preservação paisagística e ao lazer.

Alterar essas características é ferir de morte o diferenciado conceito urbanístico de Lucio Costa e, por isso, reconhecido pela Unesco. Acabar com a diferenciação dos setores é dotar Brasília de formatos urbanos iguais a qualquer outra metrópole, arriscando-se, inclusive, a perder a condição de Patrimônio da Humanidade, conferida pela Unesco.