Domingo, 13 de novembro de 2011
Deu na IstoÉO sindicalista João Carlos Cortez diz que assessores diretos do ministro do Trabalho queriam 60% do imposto sindical para regularizar sua entidade
Claudio Dantas Sequeira
ESQUEMA
João Carlos Cortez diz que a corrupção poderia chegar a R$ 12 milhões
"EXIGIRAM-ME PROPINA NUMA SALA DO GABINETE ONDE FUNCIONA A SECRETARIA DE RELAÇÕES DO TRABALHO"
Uma acusação pesada bate às portas do
gabinete do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Além das denúncias
envolvendo o desvio de dinheiro público por meio de ONGs, agora o
gabinete do ministro é acusado de extorquir sindicatos para desviar
recursos do imposto sindical à central controlada pelo PDT e por
assessores de Lupi. Quem faz a denúncia é o presidente do Sindicato de
Trabalhadores em Bares e Restaurantes da Baixada Santista, Litoral Sul e
Vale do Ribeira (Sindrest), João Carlos Cortez. Na semana passada, ele
gravou uma entrevista à ISTOÉ, na qual afirma que existe um esquema de
venda de cartas sindicais montado dentro do Ministério do Trabalho. O
sindicalista afirma que “tudo é operado por pessoas ligadas diretamente
ao ministro”, que falam e agem em nome dele. “Prometeram reativar nosso
registro desde que eu repassasse um percentual da arrecadação do
sindicato”, afirma Cortez. “Exigiram-me propina numa sala do gabinete
onde funciona a Secretaria de Relações do Trabalho”. O caso aconteceu no
fim de julho de 2007. Ele conta que procurou Lupi para tentar
regularizar o registro de sua entidade. Segundo ele, foi marcada uma
reunião pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da
Força (PDT-SP). Ela aconteceu no quarto andar do ministério, na sala
onde despachava o então secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antônio
de Medeiros – homem da total confiança do ministro. No organograma do
ministério, a Secretaria de Relações do Trabalho integra o gabinete do
ministro Lupi. Eram cerca de 10h30 da manhã. Além de Medeiros e
Paulinho, participaram do encontro o assessor especial Eudes Carneiro e
Luciano Martins Lourenço, presidente do PDT de Santos e braço direito de
Paulinho. Eles conversaram sentados em volta de uma mesa de madeira
redonda, usada para reuniões. “Esperei uns 15 minutos, eles nos serviram
café. Medeiros me cumprimentou e indicou seu assessor, Eudes Carneiro,
um homem extremamente gentil, que foi quem conduziu a reunião”, lembra.
Quem mais falou durante o encontro foi Lourenço.
Cortez alega que não tinha ideia de que estava diante de um esquema
ilegal de arrecadação. Em seguida, diz ele, na presença de todos,
perguntou o que poderia ser feito e mostrou um parecer da AGU favorável
à regulamentação do seu sindicato. Carneiro, um ex-policial federal que
acompanha Lupi há anos, sorriu e falou para o sindicalista ficar
tranquilo. “Vamos resolver o seu problema, me disse.” Em seguida,
Lourenço explicou o que precisava ser feito. Em vez de procedimentos
burocráticos, o sindicalista recebeu uma orientação pouco republicana.
“Me fizeram uma proposta indecente, um pedido de propina ali dentro do
ministério”, conta. Coagido, ele aceitou. “Eu não tinha outra saída,”
justifica. O pedágio consistia em repassar à conta bancária da Força
Sindical (central ligada ao PDT e comandada pela dupla
Paulinho-Medeiros) um total de 60% de toda a arrecadação sindical que
seria obtida pelo Sindrest nos três anos seguintes. Um valor superior a
R$ 12 milhões, segundo cálculos do próprio Cortez, com base nos 100 mil
trabalhadores que compõem a categoria na região de atuação do sindicato e
que têm descontados seus contracheques anualmente em cerca de R$ 205.