Domingo, 4 de dezembro de 2011
Do Estadão
Reportagem
do 'Estado' percorreu trechos do empreendimento que impulsionou vitória no
Nordeste e constatou deterioração de obras, concreto rachado e vergalhões
abandonados
Entre Betânia e Custódia, obras estão paralisadas e placas de concreto
começam a se soltar
Cenário de propaganda eleitoral da presidente
Dilma Rousseff e responsável por parte de sua expressiva votação recebida no
Nordeste, a transposição do Rio São Francisco foi abandonada por construtoras e
o trabalho feito começa a se perder. O Estado percorreu alguns trechos da obra
em Pernambuco na semana passada e encontrou estruturas de concreto estouradas e
com rachaduras, vergalhões de aço abandonados e diversos trechos em que o
concreto fica lado a lado com a terra seca do sertão nordestino.
O Ministério da Integração Nacional afirma que é de responsabilidade das
empresas contratadas a conservação do que já foi feito e que caberá a elas
refazer o que está se deteriorando. Informa ainda que vai promover novas
licitações em 2012 para as chamadas obras complementares, trechos em que a
pasta e as empreiteiras não conseguiram chegar a um acordo sobre preço. Segundo
o ministério, as obras estão paralisadas em 6 dos 14 lotes e em um deles o
serviço ainda será licitado.
Marcada por controvérsias, a obra da transposição começou a sair do papel em
2007 e, no ano seguinte, com os canteiros em pleno funcionamento, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua então ministra-chefe da Casa
Civil e mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fizeram uma vistoria
pela região para fazer propaganda da ação. Os dividendos eleitorais foram
colhidos no ano passado por Dilma. Em Pernambuco, Estado onde começa o desvio
das águas, ela obteve mais de 75% dos votos válidos no segundo turno da
eleição. Nas cidades visitadas pelo Estado, onde as obras estão agora
abandonadas, o desempenho foi ainda melhor. Em Floresta, a presidente obteve
86,3%; em Cabrobó e Custódia, 90,7%; e em Betânia, 95,4%.
Prometida para o final do governo Lula, a obra tem seu prazo de entrega
sucessivamente adiado. A nova previsão é concluir os 220 quilômetros do eixo
leste, de Floresta a Monteiro (PB), até o fim de 2014 e terminar no ano
seguinte os 402 quilômetros do eixo norte, que sai de Cabrobó para levar água
ao Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A obra está atualmente orçada em R$ 6,8 bilhões, 36% a mais do que a projeção
inicial. Segundo o ministério, foram empenhados R$ 3,8 bilhões para a obra e
pagos R$ 2,7 bilhões às construtoras.
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Comentário do Gama Livre: Dos males o menor. Preferível o abandono dessas obras do que a morte do Velho Chico.