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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eleições na Bahia: Kertész, a confirmação


Terça, 22 de maio de 2012
 Por Ivan de Carvalho
Quando o PSDB decidiu apoiar o candidato do Democratas a prefeito de Salvador, a maioria dos políticos estava certa de que o radialista e ex-prefeito Mário Kertész desistiria de sua candidatura, pelo PMDB, à sucessão do prefeito João Henrique.

            O raciocínio parecia – ou era mesmo – bastante lógico. Quando foi convidado por Geddel e Lúcio Vieira Lima para ser candidato a prefeito pelo PMDB, Kertész já manifestara repetidamente que à oposição competia unir-se, sem o que não teria chances de vencer o PT na disputa da prefeitura da capital baiana.

Para Kertész, que ainda falava essas coisas como comentarista na Rádio Metrópole, uma derrota das oposições em Salvador, com a conquista da prefeitura pelo governismo estadual (entenda-se, pelo PT) significaria a hegemonia deste partido na Bahia, pois já detém os governos federal e estadual, aos quais acrescentaria a prefeitura da capital. Na prática, deixaria de existir um contraponto político, um segundo polo de poder estatal – ainda que muito mais modesto que os polos federal e estadual – na Bahia.

Como já mencionado, ele só via na unidade das oposições (referia-se basicamente a uma coalizão de PMDB, Democratas e PSDB) a chance de disputar em igualdade de condições e talvez vencer o governismo liderado pelo PT.

Ocorreu que não houve a unidade das oposições. Por motivos diversos e que não vamos sequer mencionar, muito menos detalhar, no momento, o Democratas e seu candidato ACM Neto, liderando disparado as pesquisas eleitorais, recebeu na semana passada o apoio formal do PSDB, decidido pela executiva estadual do partido, para desgosto da executiva municipal de Salvador, que não escondia sua insistência na candidatura do ex-governador e ex-prefeito Antonio Imbassahy.

Imbassahy, também, não via com boa vontade sua retirada do páreo e até tentaram, ele e o PMDB, antes do apoio formal tucano a ACM Neto, uma aproximação que tinha menos de promessa de unidade entre os dois partidos do que de tentativa de pressão contra a coalizão de Democratas e PSDB.

Mas esta foi uma manobra que não funcionou. Porque, se era para apoiar o PMDB, a ala mais vinculada a Imbassahy no PSDB não tinha razão para desgostar-se com a união ao DEM de ACM Neto. Por outro lado, o PMDB, pela mesma razão que não podia coligar-se com o DEM para apoiar ACM Neto, também não podia coligar-se ao PSDB para apoiar Imbassahy. Qualquer dessas duas coligações que o PMDB fizesse em Salvador – terceira maior cidade do Brasil – colocaria a seção estadual em confronto com o governo Dilma Rousseff e o comando nacional do PT, criando ainda uma situação desconfortável para o vice-presidente da República, Michel Temer, do PMDB.

É, assim, uma certa surpresa o teor da entrevista (publicada ontem) que Kertész concedeu à repórter Lilian Machado, da Tribuna da Bahia. Kertész garante que o PMDB terá candidato a prefeito e que esse candidato será ele. Sem a unidade que declarara imprescindível. A essa altura, o apoio de Imbassahy deve estar sendo cortejado pelo próprio PSDB, para que ele apoie ACM Neto e aceite uma pacificação na sua legenda, pelo governismo (para que apoie Pelegrino) e pelo PMDB, para que apoie Kertész. O que Imbassahy não pode fazer, salvo se com autorização prévia e jurada do PSDB, é sair deste partido ou dar declarações públicas de apoio a Kertész, Pelegrino ou outro que não seja o candidato do DEM. Sem tais cautelas, o PSDB poderia pedir o cancelamento de seu mandato (que vai até o começo de 2015) na justiça.

Um palpite: está todo mundo pensando no segundo turno.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.