Segunda, 14 de maio de 2012
Por Maurício Costa de Carvalho*
A última pesquisa do Ibope sobre as eleições paulistanas praticamente
repete a última do Datafolha. Com um detalhe que pode passar
desapercebido para muita gente mas que não é insignificante: na primeira
vez em que aparece oficialmente como pré-candidato à prefeitura, o
deputado estadual Carlos Giannazi do PSOL já pontua. Para esta pesquisa,
que tem o intuito de avaliar o quanto são conhecidos os nomes
apresentados para a disputa eleitoral, o surgimento de Giannazi é a
novidade, uma importante surpresa.
Giannazi foi o último pré-candidato a ser definido, há pouco mais de um mês. Praticamente não teve exposição na mídia, não é uma figura da política nacional nem foi apresentador de TV como é o caso de outros pré-candidatos, não presenteia milhares de pessoas com livros seus, não é “dono” de máquinas sindicais e estudantis e não tem apoio de pré-candidatos a vereador que já são parlamentares ou nomes consolidados na política.
A
título de comparação, os nomes de Gabriel Chalita e Fernando Haddad –
apontados pelos seus pares como possíveis rivais de Serra em um segundo
turno – são pautados permanentemente há meses pelos jornais, revistas e
televisão. Chalita apoia-se em uma ampla rede de contatos na Igreja e
das costas quentes no cenário político nacional. Haddad nem se fale. É
herdeiro de um trabalho antigo do PT na capital, esteve até pouco como
ministro da educação e tem o inestimável apadrinhamento de Lula. Chalita
tem parcos 6% e Haddad não sai dos 3%. O que explica então que, há
menos de dois meses do início do processo eleitoral, Giannazi tenha
aparecido na pesquisa muito próximo ao candidato de Lula, na margem de
erro?
Diferentemente da maioria dos outros pleiteantes à prefeitura,
Giannazi tem um trabalho que é referência fundamentalmente na cidade.
Foi vereador por dois mandatos e sua atuação como deputado também tem
forte presença na capital. Orgânico do magistério, diretor de escola
municipal, expulso do PT por se recusar a votar na diminuição das verbas
para a educação na gestão de Marta (que tinha Haddad como secretário de
finanças, diga-se de passagem), tem base fiel entre profissionais da
educação. É muito conhecido por sua defesa do funcionalismo público e
suas lutas contra as remoções, despejos e pressões das empreiteiras e
construtoras em São Paulo. Além disso, Giannazi pode também ser o
primeiro candidato que nasceu e se criou no extremo sul da cidade,
região abandonada pela prefeitura e onde sua elaboração de atuação
política têm muita força.
Evidentemente ainda há muita água (e dinheiro, e máquinas
partidárias, e desigualdade na TV…) para rolar por baixo da ponte e as
pesquisas são apenas fotografias incompletas que captam momentos da
conjuntura. De qualquer maneira, é bom ter em conta que a esquerda tem
uma alternativa real a Serra, com o menor índice de rejeição entre todos
e apoiada em uma experiência partidária que cresce como referência
ética e independente (vide Marcelo Freixo com o PSOL do Rio de Janeiro).
Tão importante quanto isso, a “surpresa Giannazi” indica também que,
para além da “nacionalização” do debate eleitoral, é possível e
necessário pensar a mudança que São Paulo precisa a partir da cidade,
com “ideias factíveis e detalhadas, do tamanho da real dimensão dos
problemas brutais que vivemos no cotidiano”, como bem disse em um belo
artigo recente o professor Vladimir Safatle. E agora essa opção está
colocada.
*geógrafo, professor e presidente do PSOL da cidade de São Paulo.