Sábado, 15 de dezembro de 2012
Da Revista IstoÉ, edição nº 2249
Conheça a estratégia dos procuradores da República para apurar o suposto envolvimento do ex-presidente com a quadrilha do mensalão. Quais serão as primeiras contas rastreadas e como o governo e o PT preparam a reação
Sérgio PardellasALVO
Procuradoria quer apurar se dinheiro do
mensalão bancou despesas de Lula
Dois anos depois de deixar o Palácio do Planalto, aclamado como um
dos presidentes mais populares do País, Lula se depara com o
constrangimento de ser alvo de investigação cujo processo correrá na
primeira instância da Justiça Federal. As recentes acusações de Marcos
Valério, de que o esquema do mensalão teria ajudado a bancar despesas
pessoais do ex-presidente em 2003, motivaram, nos últimos dias, a
realização de uma série de reuniões entre o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, subprocuradores e pelo menos quatro ministros
do STF, entre eles o presidente do Tribunal, ministro Joaquim Barbosa.
Nos encontros, ficou acertado que, logo depois do julgamento do
mensalão, Gurgel irá pedir a abertura de um novo inquérito para apurar
as denúncias de Valério que supostamente envolveriam diretamente o
ex-presidente. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República prestado
no dia 24 de setembro, Valério disse que depositou, por intermédio de
suas empresas de publicidade, cerca de R$ 100 mil na conta da empresa do
ex-assessor da Presidência Freud Godoy. Segundo Valério, os recursos
seriam destinados a custear gastos particulares do então presidente.
Gurgel se diz muito irritado com o vazamento do depoimento de Valério,
colhido por sua esposa e pela procuradora Raquel Branquinho, pois isso
acabou criando um ambiente de pressão sobre o MP. Mesmo assim, Gurgel
entende que a Procuradoria será obrigada a aprofundar as investigações
sobre Freud Godoy, uma espécie de faz tudo de Lula, sob risco de
prevaricação. Ainda há dúvidas se o inquérito será aberto logo após a
aplicação das penas ou depois de transitado em julgado o processo do
mensalão. Mas, por temer que a Procuradoria possa ser usada por Marcos
Valério para chantagens políticas ou para benefício próprio, Gurgel e os
subprocuradores definiram que o melhor caminho é mesmo uma nova
investigação. Em conversas com subprocuradores e ministros do STF, na
última semana, ISTOÉ obteve informações sobre a estratégia dos
procuradores da República para apurar o suposto envolvimento de Lula com
o mensalão e qual será o caminho da investigação.
O primeiro passo será designar um procurador para ficar responsável
pelo caso. Já se sabe que as primeiras contas rastreadas serão as das
empresas em nome de Freud Godoy, como a Caso Sistemas de Segurança e a
Caso Comércio e Serviços Ltda. Num primeiro momento, porém, a
Procuradoria não vai ouvir nenhum depoimento. Nessa fase inicial do
inquérito, caberá ao procurador reunir, com base nas apurações já feitas
pelos Legislativos e Judiciários estaduais, o maior número de
documentos já produzidos nas investigações sobre Marcos Valério. Além de
fazer um pente-fino sobre o que já foi investigado, o procurador
escalado para o caso terá a tarefa de buscar os elos entre Valério e o
ex-assessor Freud Godoy. A CPI dos Correios, instalada em 2005 no
Congresso na esteira do escândalo do mensalão, será uma das fontes de
informação deste novo inquérito. Na CPI, poderão ser encontrados
depoimentos do próprio Freud Godoy e notas fiscais emitidas por suas
empresas entre 2003 e 2006.