Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

753 bilhões para a dívida em 2012

Sexta, 1 de fevereiro de 2013
Este valor representou 44% do Orçamento Geral da União

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 1º/2/2013

Em 2012, o Governo Federal gastou R$ 753 bilhões com juros e amortizações da dívida, ou seja, R$ 45 bilhões a mais que em 2011. Apesar da grande imprensa dar a entender que os gastos com a dívida estariam em queda – noticiando que o “superávit primário” teria ficado abaixo da meta – cabe comentarmos que este “superávit” representa apenas uma pequena parcela das fontes de recursos para o pagamento da dívida. Esta se alimenta principalmente com a emissão de novos títulos (nova dívida); o recebimento de juros e amortizações pagos pelos estados e municípios sobre dívidas refinanciadas pela União; os resultados das privatizações; e outras fontes de recursos. Ultimamente, até questionáveis repasses feitos pela Caixa Econômica Federal, BNDES e Fundo Soberano foram destinados a completar os gastos com a dívida.

É devido a esse enorme privilégio que quase 44% de todo o  Orçamento Geral da União no ano passado foi consumido pelos gastos com a dívida, em detrimento do atendimento às urgentes e relevantes necessidades dos cidadãos brasileiros que pagam essa conta.

Orçamento Geral da União de 2012, por Função
Executado até 31/12/2012 – Total: R$ 1,712 Trilhão
[clique na imagem para abri-la]
 
Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida. Fontes:
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=2620216 – Gastos por Função
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=1007801- Gastos com a Dívida http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=1007782 – Transferências a Estados e Municípios (Programa “Operações Especiais – Transferências Constitucionais e as Decorrentes de Legislação Específica”)
Nota 1: As despesas com a dívida e as transferências a estados e municípios se incluem dentro da função “Encargos Especiais”.
Nota 2: O gráfico não considera os restos a pagar de 2012, executados em 2013.
Nota 3: Observado o princípio da unicidade orçamentária.

O gráfico acima respeita o princípio da unicidade orçamentária, isto é, apresenta em uma única peça todas as fontes e aplicações de recursos do Orçamento Geral da União.

Alguns representantes do governo e especialistas apresentam números distintos, pois deixam de computar a parcela dos gastos da dívida com a chamada “rolagem”, ou “refinanciamento”, como se esta fosse uma mera  troca de dívida antiga por dívida nova. Esse critério não é correto, pois, conforme restou comprovado durante os trabalhos da CPI da Dívida Pública, parcela significativa dos juros está sendo paga mediante a emissão de nova dívida. Essa foi uma das relevantes denúncias da CPI .

Membros do governo também têm alegado que a dívida estaria em uma situação confortável, argumentando que a chamada “dívida líquida” estaria em um patamar aceitável. Porém, o verdadeiro indicador que deve ser considerado é a dívida bruta. Em dezembro de 2012, a dívida interna bruta alcançou R$ 2,823 TRILHÕES, e a externa US$ 441,757 bilhões. Uma notícia desta semana do jornal Valor Econômico  também defende este critério: “Faz todo sentido olhar a dívida bruta porque ela incorpora todos os truques que o governo quis fazer, especialmente os relacionados ao BNDES“.

Preço da gasolina poderia ter sido reduzido em R$ 0,46

Os jornais desta semana também comentaram sobre o aumento do preço da gasolina, alegando que isto seria necessário para repor supostas perdas da Petrobrás.

Na realidade, grande parte da renda do petróleo serve para o pagamento da dívida pública. No ano passado, nada menos que R$ 6,3 bilhões dos royalties do petróleo (pertencentes à esfera federal) foram destinados para a chamada “Reserva de Contingência”, utilizada para a obtenção da meta de “Superávit Primário”, a reserva de recursos para o pagamento da dívida. Além disso, todos os anos a Petrobras distribui cerca de R$ 10 bilhões de seus lucros para os sócios, dentre os quais se incluem o governo federal – que, conforme a Lei 9.530/1997, tem de destinar tal recurso para o pagamento da dívida pública – e investidores privados, inclusive estrangeiros. Isto desconsiderando a enorme quantidade de tributos embutidos no preço da gasolina, que também servem para o pagamento da dívida.

Somando-se os R$ 6,3 bilhões contingenciados em 2012 com os R$ 10 bilhões da distribuição de lucros, chega-se a R$ 16,3 bilhões, que seriam suficientes para subsidiar uma redução de nada menos que 46 centavos no preço de cada um dos 35,3 bilhões de litros de gasolina consumidos em 2012.