Domingo, 28 de julho de 2013
Elaine Patricia Cruz, repórter da Agência Brasil
São Paulo – Um estudo de pesquisadores do Departamento de
Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP), em Ribeirão Preto (SP), pode ajudar na elaboração de medicamentos
mais eficazes - e com menos efeitos colaterais - para o controle de
dores decorrentes de inflamações.
Um artigo sobre a pesquisa, assinado pelos professores Sergio
Henrique Ferreira e Thiago Mattar Cunha, pelo pós-doutor Guilherme
Rabelo e pelo pós-graduando Jhimmy Talbot, todos do Departamento de
Farmacologia da faculdade, foi publicado em junho na revista científica Proceedings of the National Academy of Science, dos Estados Unidos.
Segundo o professor do Departamento de Farmacologia, Thiago Mattar
Cunha, os pesquisadores trabalham há mais de 20 anos para tentar
entender a gênese da dor, principalmente no caso de origem inflamatória.
“Nossa ideia é que, se conseguirmos entender como a dor aparece e o que
está por trás do surgimento da dor inflamatória, a gente possa, baseado
nesse conhecimento, desenvolver um novo medicamento”, disse Cunha à Agência Brasil.
No estudo, os pesquisadores descobriram que uma proteína, chamada de
fractalcina, está envolvida na ativação das dores crônicas de origem
inflamatória. Se os receptores da proteína forem bloqueados, acreditam
os pesquisadores, as dores inflamatórias, tais como as que ocorrem na
artrite reumatoide, poderão ser controladas.
Em experiência com animais, os pesquisadores observaram que existe um
tipo celular, chamado de células satélites, que estabelecem o último
contato com os neurônios que transmitem a dor. “Nós demonstramos que
estas células, que estão envoltas no corpo desse neurônio e que não
tinham uma função patológica conhecida, são fundamentais para esse
processo de dor inflamatória”, explicou.
Além da descoberta da importância das células satélites no mecanismo
da dor, os pesquisadores conseguiram, segundo ele, demonstrar como elas
são ativadas e quem é a responsável por essa ativação: a fractalcina.
“Essa proteína, a fractalcina, é liberada durante o processo
inflamatório e ativa essa célula satélite. Existe um local específico
onde essa fractalcina atua, que chamamos de receptor. A ideia então é
desenvolver um fármaco ou uma molécula que bloqueie esse receptor e que
impeça que a fractalcina se ligue a esse receptor e ative a célula
satélite”.
Segundo Cunha, indústrias farmacêuticas já estão desenvolvendo
medicamentos para bloquear o receptor da fractalcina. Mas a ideia do
grupo de pesquisadores da USP é que, em médio prazo, seja criado um
remédio para ser testado contra a dor inflamatória, com menos efeitos
colaterais, e que venha, no futuro, amenizar dores de pessoas que sofrem
com artrite reumatoide, osteoartrite, gota e até traumas cirúrgicos e
torções. “O que queremos é desenvolver fármacos que sejam efetivos no
tratamento da dor e que tenham menos efeitos colaterais para melhorar a
qualidade de vida do paciente”, ressaltou.
“Já existem fármacos no mercado contra a dor inflamatória. Estes
anti-inflamatórios que se toma, tal como a aspirina, são efetivos. O
grande problema está relacionado com os efeitos colaterais que eles
apresentam e que tem muito a ver com o sistema cardiovascular e com o
sistema gastrointestinal. São efeitos que limitam a utilização. Um
paciente que tem artrite reumatoide e que vai precisar tomar medicamento
por mais de um ou até 20 anos, ele não vai suportar estes efeitos
colaterais por muito tempo. Nossa ideia é achar um mecanismo importante
e, a partir disto, compor novas drogas para conter esse processo”, disse
o professor.